O ritual da serpente no imaginário artístico, Museu Afro Brasil

A dupla exposição “José de Guimarães – O Ritual da Serpente: 10 guaches inspirados na obra de Aby Warburg” e “A Serpente no Imaginário Artístico”, que exibe cerca de 100 obras que capturam o simbolismo da cobra nas artes. A cobra é o objeto dessas exposições porque sempre “capturou” a atenção do homem, possui uma rica iconografia e características de padrões temperados: vida e morte, bem e mal, por exemplo.

Um dos artistas mais importantes de Portugal hoje, conhecido por seu uso rigoroso das cores, José de Guimarães apresenta seu trabalho mais recente, feito especialmente para as comemorações dos dez anos do Museu Afro Brasil. As dez guaches refletem sua interpretação pictórica da obra do historiador da arte Aby Warburg (1866-1929). O estudioso alemão esteve na América do Norte, no final do século XIX, para pesquisar o “Ritual da Serpente” dos índios Hopi.

Biografia
José Maria Fernandes Marques, também conhecido pelo pseudônimo de José de Guimarães (Guimarães, 25 de novembro de 1939), é um artista português.

Nascido em 1939, José de Guimarães é considerado um dos principais artistas portugueses da arte contemporânea, tendo um vasto e notável trabalho em pintura, escultura e outras atividades criativas, o que o torna um dos artistas portugueses mais premiados. Muitas de suas obras são exibidas em vários museus europeus, bem como nos Estados Unidos da América, Brasil, Canadá, Israel e Japão.

Mais recentemente, em Portugal, José de Guimarães teve um forte envolvimento com a Capital Europeia da Cultura, em Guimarães, que viu nascer o Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), integrado na Plataforma de Artes e Criatividade. A própria National Press-Mint marcou a Capital Europeia da Cultura cunhando uma moeda comemorativa do artista. Em 1990, recebeu o título de Comandante da Ordem do Infante D. Henrique pelo então Presidente da República Portuguesa.

Ingressou na Academia Militar e no curso de Engenharia da Universidade Técnica de Lisboa em 1957. Iniciou sua formação artística no ano seguinte, frequentando aulas de pintura com Teresa Sousa e Gil Teixeira Lopes e estudando gravura na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses. Entre 1961 e 1966, viajou pela Europa, conhecendo o trabalho de ex-mestres (incluindo Rubens) e completou seu diploma de Engenharia. Sua carreira “seria definida pela descoberta de regiões distantes e incomuns, da África ao Japão, do México à China. Cada uma dessas culturas o estimulou a desenvolver uma linguagem universal e a transmitir um universo imaginário que, afinal, revive o memória da própria história portuguesa, composta de relações enriquecedoras com países distantes “.

A arte de José de Guimarães é ao mesmo tempo única e múltipla, como o próprio artista, que, ao se deixar contaminar por uma diversidade de culturas, cria comunicação e identidade mestiças, regenerando padrões e singularidades.

Detentor de uma enorme coleção de arte africana que já foi exibida em vários países (Brasil, Espanha, Portugal), José de Guimarães costuma dizer que recolhe o que está relacionado ao seu trabalho, mas é evidente que são os dispositivos do primitivismo que acima tudo o que interessa. As artes integradas na comunidade, participando dela, garantindo fertilidade, saúde, esconderijo da morte, celebração dos deuses, cúmplice de fraternidade com animais.

Entre o passado mítico da África pré-colonial, as culturas modernistas da Europa em 1900 e o frenesi criativo das imensas periferias contemporâneas, existem elos substantivos de compartilhamento e pertencimento que o artista continua questionando e provocando. E se ele consegue, é porque essa cultura também é dele, um artista da pequena periferia que é Portugal, aberta, sobre o mar, aos valores da miscigenação. “- (Raquel Henriques da Silva)

José de Guimarães, diz a esse respeito como colecionador: “Meu maior objetivo como colecionador não é apenas colecionar do outro lado, é feito com reconhecimento e respeito por outra cultura como alguém que Portugal navega portugueses pelos oceanos e encontrou novas mundos e misturas .. criaram novas visões – até certo ponto, meu trabalho artístico acompanhou essas bandas de marinheiros do passado que abordam as culturas de outras regiões. Isso é levado em consideração em relação a outra cultura que me faz ou me admira. me fazendo querer ver e apreciar … tão de perto quanto através de sua arte.

A exibição
A exposição “A Serpente no Artístico Imaginário” captura toda a extensa simbologia da serpente nas artes. Pode ser encontrada nas máscaras gueledé e nas garrafas e bandeiras variadas do vodu haitiano, que fazem parte do show. Suas formas tortuosas inspiraram a visão dos artistas: ela se infiltra na escultura de Mestre Didi, e o Kifouli beninense, reverbera na tela de Siron Franco e está embutido na gravura de Gilvan Samico. Também estarão em exibição obras de Carybé, Juarez Paraíso, Francisco Graciano, Noemisa Batista dos Santos e obras de Benin e Haiti. As obras desta exposição pertencem ao acervo do Museu Afro Brasil.

Nesta mostra, as máscaras gueledés, garrafas e bandeiras do vodu haitiano e também a inspiração nas obras, esculturas e telas de artistas como Carybé, Mestre Didi, Siron Franco, Gilvan Samico, entre outros, além de produções da Benin e Haiti.

No meio das obras, o visitante pode conferir, por exemplo, a escultura “Vodoun Dan, Divindade de Azouassi” (2007), de Kifouli Dorsou; e “Répteis” (2012), de Carmela Gross, em latão banhado em níquel.

Museu Afro Brasil
O Museu Afro Brasil é uma instituição pública, mantida pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e administrada pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura.

O objetivo é ser um museu contemporâneo, onde os negros possam ser reconhecidos.

Mais de 6.000 obras destacam a importância do povo africano na formação da cultura, herança e identidade brasileiras, hoje conhecidas. Além disso, oferece uma celebração da arte e realizações dos africanos e afro-brasileiros.

A coleção é considerada a maior afro-americana da América, com mais de 6.000 obras-primas, esculturas, documentos, gravuras, cerâmicas, pinturas, artes contemporâneas, joias, objetos, relevos, fotografias e têxteis.

Mais de 70% da coleção está em exposição de longo prazo, retratando principalmente o Brasil, alguns países do continente africano, Cuba, Haiti e Estados Unidos.