Banzo, o amor e a cozinha caseira, Museu Afro Brasil

Cinqüenta pinturas, desenhos e esculturas compõem o conjunto de peças da exposição “Banzo, Amor e Cozinha Caseira”, da artista Sidney Amaral, no Museu Afro Brasil, Instituição da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

O artista plástico ganhou o Prêmio Funarte de Arte Negra. A mostra é uma parte expressiva desta exposição, composta por auto-retratos. Uso meu corpo como representação de uma idéia de identidade, de memória; fragmentos do meu corpo repensados ​​no objeto das casas.

Depois de participar de importantes exposições, Sidney Amaral realizou sua primeira exposição individual no Museu Afro Brasil. “O museu tem um papel catalisador para o surgimento de novos artistas negros”. A exposição também contará com obras que abrangem 15 anos da carreira artística de Sidney Amaral. São esculturas em mármore e bronze e resina, além de desenhos e pinturas que utilizam técnicas de acrílico e aquarela.

Sidney Amaral sempre trabalha em duas etapas: a da realidade dos objetos e a de se incluir como personagem que age de livre-arbítrio na composição do fundo preto. “Sidney é o equilibrista em ação, discutindo o cotidiano de um negro em uma sociedade, sempre disposto a esquecer os valores pretendidos para todos, sem exceção”.

O projeto Encontro com Artista promove um diálogo entre os visitantes e o convidado, com o objetivo de ampliar as possibilidades de apreciação estética do participante, com base no contato com a obra e com a história do artista. A grande exposição de Sidney Amaral no Museu Afro Brasil traz apelos surpreendentes, devido aos muitos caminhos que ele propôs.

Biografia
Sidney Carlos do Amaral (São Paulo, São Paulo, 1973 – Idem, 2017). Artista visual e professora. A extensa produção de Amaral explora, em diferentes idiomas, a versatilidade poética e formal dos objetos do cotidiano. Em suas pinturas, ele problematiza questões de identidade, expandindo o debate artístico brasileiro sobre a representação do negro contemporâneo.

Na década de 1990, estudou na Escola Superior de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp), na Escola Panamericana de Artes, na ECOS Escola de Fotografia e formou-se em Educação Artística na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em 1998. No ano seguinte, é aluno da artista Ana Maria Tavares (1958) no curso de orientação e desenvolvimento de projetos artísticos no Museu Brasileiro de Escultura (Mube). Ao longo de sua carreira, ele concilia a produção artística com o trabalho de um professor de arte na rede pública de ensino. Em 2001, realizou sua primeira exposição individual no Centro Cultural São Paulo (CCSP).

A princípio, ele se interessa pela elaboração de objetos prosaicos, fora de contexto e forjados em materiais nobres, como mármore, bronze e porcelana. A série Balloons in Suspension (2009) explora paradoxos semânticos e visuais entre a leveza da forma e o peso do bronze, a delicadeza de polir os balões e a rusticidade da corrente da serra elétrica que os mantém. Escolhe temas impalpáveis ​​e efêmeros, como Os Chinelos da Namorada (2ª versão, 2014), escultura em que o bronze polido sublima e fixa um episódio cotidiano. O encontro de refinamento material com banalidade temática causa tensão entre ambos, pois tema e formas estão distantes da síntese e idealização associadas a materiais nobres.

O auto-retrato fotográfico é usado como suporte para a criação de pinturas nas quais o artista se coloca entre objetos que falam de relações afetivas. Essas relações são ampliadas pelo drama narrativo e uma atmosfera enigmática e perturbadora, familiar à pintura metafísica. Muitos de seus personagens estão em situações de impasse. Em Imolação (2009/2014), o auto-retrato descreve uma “auto-imolação”, que para Amaral pode ser interpretada como libertação: “ao ver no meio da tela um homem com uma arma apontada para a cabeça, o primeiro O que se pensa é que a pessoa representada na pintura quer se matar. Mas não é verdade. Precisamente por esse motivo, chamo de Imolação. Imolação é o que você faz por algo maior […] Você está se matando porque não quer ser escravo, não quer perder sua identidade, sua liberdade ”

Em residência artística no Tamarind Institute (EUA), em 2013, trabalhou em questões de identidade racial por meio da litografia. O uso dessa técnica, além da aquarela, aproxima sua crônica visual dos registros sobre os escravizados, feitos por artistas viajantes no Brasil. Amaral atualiza essa iconografia, dando voz ao sujeito representado. Aquarelas pesadas e introspectivas, com áreas escuras abundantes, contrastam com a exterioridade das tarefas registradas pelos viajantes. Em O Estrangeiro (2011), o próprio artista negro é representado em um caminho difícil para o mundo das artes. Já na aquarela Gargalheira, Quem falará por nós? (2014), o instrumento de tortura do passado se funde com a opressão social mediatizada do presente. Ele une sentimentos de invisibilidade e superexposição da pessoa negra, que, massivamente desafiada por microfones, assume um silêncio altivo e rejeita o sistema.

Como observa o crítico Tadeu Chiarelli (1956), a recorrência do auto-retrato na obra de Sidney Amaral, bem como a de outros artistas negros no final do século XIX, pode ser entendida como um meio de afirmação social, profissional e de identidade. Na produção de Amaral, os dilemas coletivos são trazidos à primeira pessoa como estratégia expressiva e, assim, ganham concretude.

Em oposição à Libertação de Escravos (1888) por Pedro Américo (1843-1905), obra que alegoriza a abolição segundo o poder imperial, no políptico Desconfortável (2014), Amaral nos oferece a visão de um homem negro que revê a abolição como resistência , luta e incerteza. Inicialmente, este trabalho evoca as alegorias de Glauco Rodrigues (1929-2004) dos anos 1960/70, principalmente no que se refere ao diálogo entre desenho e fotografia. No entanto, a narrativa austera de Amaral se afasta do deleite festivo do artista gaúcho.

No centro, danças e personagens emblemáticos, como a enfermeira molhada Mônica, tirada da fotografia de João Ferreira Villela (1860), e uma garota que usa sapatos, como símbolo da conquista da cidadania. Em segundo plano, o artista se mostra como um observador de uma apoteose da cultura negra, que lembra as seguintes personalidades históricas, da esquerda para a direita: Francisco José do Nascimento (1839-1914), conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde, líder de balsas em lutas abolicionistas; jornalistas José do Patrocínio (1853-1905) e Luiz Gama (1830-1882); e João Cândido Felisberto (1880-1969), o “Almirante Negro”, membro da Revolta da Chibata. Eu

Seja na construção de objetos paradoxais, provocador de uma poesia incomum, seja nas contínuas investigações sobre sua própria identidade e relações urbanas, Amaral tenta não se afastar da característica mais marcante de cada objeto. Para isso, o desenho marcado pela referência fotográfica é seu instrumento de apropriação de imagens e formas.

A exibição
Banzo, Love and House Kitchen, uma grande exposição de Sidney Amaral no Museu Afro Brasil, traz “apelos” surpreendentes no melhor sentido dessa palavra, devido aos muitos caminhos propostos por ele. (…) Assim como há vida, há um presente e um tempo passado. E ambos se tornaram resolutos para que a vida pudesse continuar.

luzes
Sidney Amaral é um dos primeiros artistas a receber a homenagem conferida pelo Prêmio Funarte de Arte Negra.

Canto para Ogum
Longe daqui e longe de mim
Chinelos da namorada: versão II
O príncipe
Animal político II
Aviso
Ausência
Incômodo (5 telas)
Gargalheira ou quem falará por nós?
Finalmente eu encontrei você ou as afinidades eletivas
Bem me quer, me quer mal
A ovelha e eu

Museu Afro Brasil
O Museu Afro Brasil é uma instituição pública, mantida pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e administrada pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura.

O objetivo é ser um museu contemporâneo, onde os negros possam ser reconhecidos.

Mais de 6.000 obras destacam a importância do povo africano na formação da cultura, herança e identidade brasileiras, hoje conhecidas. Além disso, oferece uma celebração da arte e realizações dos africanos e afro-brasileiros.

A coleção é considerada a maior afro-americana da América, com mais de 6.000 obras-primas, esculturas, documentos, gravuras, cerâmicas, pinturas, artes contemporâneas, joias, objetos, relevos, fotografias e têxteis.

Mais de 70% da coleção está em exposição de longo prazo, retratando principalmente o Brasil, alguns países do continente africano, Cuba, Haiti e Estados Unidos.