Neo-manuelino

Neo-manuelino foi uma arquitectura de revitalização e estilo de artes decorativas desenvolvida em Portugal entre meados do século XIX e início do século XX. O estilo adoptou as características do manuelino (ou gótico tardio português) do século XVI.

Arquitetura
O neomanuelino é uma arquitectura revivalista, tipicamente romântica, que copia os aspectos mais superficiais da decoração manuelina, aplicados em edifícios adaptados às necessidades do seu tempo. Baseia-se nos avanços técnicos que surgiram com a revolução industrial, tanto em termos de materiais como de máquinas, escondendo construções modernas, muitas vezes com estruturas metálicas (a vanguarda da época). Utiliza todo tipo de inovações, como tijolos ou cerâmicas industriais, preservando, sempre que possível, questões básicas desenvolvidas no neoclassicismo, como a funcionalidade e a rentabilidade da arquitetura, simplesmente adaptadas a outras estéticas. Segue-se as grandes construções manuelinas como a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, o Mosteiro da Batalha e o Convento de Cristo em Tomar, imitando apenas os motivos decorativos mais evidentes. Ele nem se preocupa em copiar fielmente as formas originais. Baseia-se essencialmente na diversidade de arcos, cordas, elementos vegetais, cintos, fivelas, pináculos, contra-forças e esculturas. Centra-se na decoração em torno de portas e janelas, como os edifícios originais, mas não tenta copiar os complexos programas iconográficos do manuelino. Começa com a construção do Palácio da Pena, em Sintra, pelo rei Fernando II (o consorte viúvo da rainha Maria II), entre 1839 e 1849, de uma forma quase natural. O contrato de venda ao rei previa desde o início a recuperação das ruínas de um antigo convento manuelino, destruído pelo terramoto de 1755, e a sua integração no conjunto.

História
O termo manuelino foi introduzido em 1842 pelo historiador de arte brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen para designar o estilo artístico exuberante que se desenvolveu durante o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521). O estilo manuelino coincidiu com a Era dos Descobrimentos e com o auge do poder marítimo português. Na sequência da arquitectura neogótica que se espalhou por toda a Europa desde meados do século XVIII, o estilo manuelino foi considerado o mais autêntico estilo arquitectónico português.

Neo-manuelino começou com a construção do Palácio da Pena em Sintra por Ferdinand II entre 1839 e 1849. Outro projecto pioneiro foi a restauração do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa durante a década de 1860, em que o mosteiro manuelino ganhou uma nova torre e anexos construídos em Estilo neo-manuelino (que agora abriga o Museu Marítimo e o Museu Nacional de Arqueologia). Durante este período, a icónica Torre de Belém foi também restaurada com várias adições neo-manuelinas.

A neo-manuelina se espalhou para as colônias e antigas colônias portuguesas. No Brasil existem vários edifícios neo-manuelinos, geralmente construídos por associações portuguesas. O mais importante deles é o Real Gabinete Português de Leitura, construído entre 1880 e 1887 por imigrantes portugueses no centro do Rio de Janeiro.

Outros importantes edifícios neo-manuelinos, em Portugal, são a Estação Ferroviária do Rossio, Lisboa (1886-1890), o Palace Hotel do Bussaco (1888-1907), a Câmara Municipal de Sintra (1906-1909), o Palácio dos Condes de Castro Guimarães em Cascais. (1900) e a Quinta da Regaleira em Sintra (1904-10). O neo-manuelino também era usado em prédios menores, como casas particulares.

No Brasil, além do Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro (1880-1887), os edifícios neo-manuelinos incluem o Centro Português em Santos (Centro Português de Santos, 1898-1901), a Biblioteca Portuguesa. da Bahia (1915-1918) e do Liceu Literário Português (Liceu Literário Português) no Rio de Janeiro (1938).

Outros exemplos de edifícios neo-manuelinos também podem ser encontrados em territórios africanos e asiáticos do antigo Império Colonial Português.

Existem também alguns exemplos do estilo neo-manuelino em países que não estavam diretamente relacionados com a cultura portuguesa. Um bom exemplo é o Palácio Morozov (1894-1898) em Moscou, na Rússia.

Situação em Portugal
Os primeiros anos do século XIX são muito complexos, devido essencialmente à sucessão de problemas políticos, ou seja, a fuga da família real para o Brasil em 1807, devido a invasões francesas, domínio inglês subseqüente, revolução liberal em 1820, retorno do real. família em 1821, independência do Brasil, a perda do comércio colonial com a antiga colônia em 1822 (um golpe dramático para a economia portuguesa), a contra-revolução absolutista e, finalmente, as guerras liberais, mantendo a instabilidade até 1834.

Esta situação só permitiu o desenvolvimento de condições conducentes ao surgimento de um novo estilo artístico, o Romantismo, no final da década de 1930. Embora em Portugal aparecesse relativamente cedo na literatura, no final do século XVIII com alguns pré-românticos, nas restantes formas artísticas desenvolve-se apenas com o impulso dado por D. Fernando II, marido de D. Maria II, quando iniciando a construção do Palácio Nacional da Pena, após a estabilização da situação nacional.

Em toda a Europa, a arquitetura romântica reproduz os estilos do passado, especialmente o gótico, mas também o românico e o renascentista, assim como a arquitetura árabe e bizantina, refletindo um crescente interesse pela história. Cada estilo tem mais ou menos expressividade, dependendo da tradição local e do que foi considerado a verdadeira arquitetura nacional. Essa atribuição de valores nacionalistas à arquitetura leva ao grande desenvolvimento do neo-gótico no norte da Europa, considerado como o verdadeiro estilo arquitetônico de países como França, Inglaterra e Alemanha, como resultado da abundância de catedrais góticas.

Em Portugal a situação é diferente. O gótico português segue a cadeia mendicante, isto é, adota os princípios ideológicos das ordens mendicantes, baseado na simplicidade e recusa de toda ostentação ou luxo, com características próprias, sem copiar a arquitetura francesa, modelo seguido na época pela generalidade dos países europeus. Os edifícios de grande aparato, recobertos de decoração tipicamente gótica, são um pouco mais tarde e, muitas vezes, fazem a transição para o manuelino, como o Mosteiro da Batalha ou o Convento de Cristo em Tomar. O facto de o manuelino coincidir com o reinado de D. Manuel I, com o período mais importante dos descobrimentos, fazendo com que grandes quantidades de capital utilizadas generosamente em edifícios religiosos, tornando este estilo muito decorado e original, seja também fundamental. Quando a sensibilidade romântica volta-se para o passado, buscando referências nacionalistas, obviamente escolhe o manuelino como expressão máxima da criatividade arquitetônica portuguesa, baseando-se no argumento de ser uma arquitetura puramente nacional.

Edifícios principais
Há uma notável coleção de edifícios neo-solinistas, dos quais se destacam os seguintes:

O Palácio Nacional da Pena em Sintra – Aparato é um edifício revivalista no topo da Serra de Sintra, integrado num enorme parque de estilo inglês (designação da tipologia de jardins que copiam a natureza), com uma paisagem verdadeiramente única. É um edifício complexo, de planta quase orgânica, simulando sucessivas campanhas de obras, individualizadas pelo uso de diferentes estilos artísticos. O conjunto neomanuelino destaca-se pela cor rosada e é constituído basicamente pelas ruínas do antigo convento Jerónimo. Existem, no entanto, vários elementos claramente adicionados e inspirados nas grandes obras do reinado de D. Manuel I, como a torre do relógio inspirada na Torre de Belém ou a famosa cópia da sacristia do Convento de Cristo em Tomar. O projecto deve-se ao Barão de Eschwege, mas D. Fernando II teve uma participação activa na elaboração do conjunto. É o principal edifício romântico português. Em 1995, foi classificada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade.

Arranjo da fachada do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa – A fachada principal do mosteiro foi objecto de obras de restauro e regularização entre 1867 e 1878, de acordo com o projecto de Cinatti e Rambois, incluindo a construção de um corpo central com uma torre em 1878 durante as obras) e uma nova ala destinada à Casa Pia, onde actualmente se encontra o Museu da Marinha. O corpo central será concluído apenas no início do século XX, seguindo um projeto elaborado em 1895 por Domingos Parente da Silva, eliminando a torre central e simplificando o conjunto.

Estação do Rossio em Lisboa – Um edifício projetado pelo arquiteto José Luís Monteiro em 1886, projetado para ser a estação central de Lisboa, seguindo a tendência européia de construir estações ferroviárias verdadeiramente impressionantes. É constituído por uma espectacular fachada neomanuelina, com arcos, pilastras, contrafortes, planaltos, pináculos e uma pequena torre com o relógio. A cobertura da gare, em arquitetura de ferro, seguindo a estética clássica, e um hotel de luxo, como complemento da estação ferroviária, funcionam de acordo com o gosto eclético do final do século XIX.

Palácio Hotel do Bussaco – No meio da Mata Nacional do Buçaco e perto das Termas do Luso, foi concebido para a caça dos reis de Portugal e, mais tarde, em 1888 transformado em hotel, segundo o projeto de Luigi Manini. O conjunto faz justiça ao seu autor, cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos, a ópera de Lisboa, devido à profusão de elementos, bem como uma implantação privilegiada no meio da floresta histórica. É claramente inspirado na Torre de Belém, com referências a outros edifícios emblemáticos dos séculos XV e XVI, tornando-se um dos principais edifícios neo-solinistas em Portugal, e um verdadeiro hotel de “conto de fadas”. A decoração exterior, para além de todos os elementos arquitectónicos do estilo, foi completada com importantes painéis de pintura sobre azulejo executados por Jorge Colaço.

Quinta da Regaleira em Sintra – É um dos edifícios posteriores do neomanuelino. O edifício atual foi iniciado em 1904, de acordo com o projeto de Luigi Manini, reformando o edifício anterior. Utiliza um conjunto decorativo impressionante, baseado em arcos, cordas, platibadas, pináculos e elementos vegetais. Todo o conjunto tem referências à Maçonaria.

Outros edifícios importantes no estilo neomanuelino em Portugal são o Palácio dos Condes de Castro Guimarães em Cascais (cerca de 1900), os Paços do Concelho de Soure (1902-1906), os Paços do Concelho de Sintra (1906-1909). ) ) e muitos outros.

O neomanuelino foi literalmente exportado para algumas exposições universais na França durante o final do século XIX e início do século XX e para a Exposição Nacional do Brasil no Rio de Janeiro em 1908, onde havia um palácio manuelino.

No Brasil também existem edifícios neo-solinenses, parte deles ligados a instituições fundadas por imigrantes portugueses. Exemplos são a Mansão Henry Gibson em Recife (o mais antigo exemplar da arquitetura neomanuelina no país, 1847), a Real Escritório de Leitura Português (1880-1887) e o Liceu Literário Português (1932-1938) no Rio de Janeiro, o Centro Cultural Português (1898-1901) em Santos, a Igreja de São José (1902) em Belo Horizonte, a Capela da Ajuda (1912) e a Repartição de Leitura da Bahia (1915-1918) em Salvador, e alguns outros.