Corpo a corpo: a disputa de imagens, da fotografia à transmissão ao vivo, casas do IMS Paulista em São Paulo

Body to Body: a disputa de imagens, da fotografia à transmissão ao vivo, mostra um corte da produção brasileira contemporânea em fotografia, cinema e vídeo através de sete trabalhos desenvolvidos por artistas e coletivos – Bárbara Wagner, Jonathas de Andrade, Mídia Ninja, Sofia Borges, Letícia Ramos e Garapa – em parceria com os curadores Thyago Nogueira, coordenadora de fotografia contemporânea do IMS e editora da revista ZUM, e Valentina Tong (assistente).

Os artistas foram convidados a pensar no retrato, individual ou coletivo, e em como as imagens podem nos ajudar a ver os conflitos sociais que surgiram no Brasil nos últimos anos. O lema é o uso do corpo como elemento de representação social e ação política – seja pela presença física e simbólica nos espaços públicos, seja como o veículo que conduz a câmera, ou como um local de expressão da individualidade, que traz indivíduos juntos e os separa.

A exposição CORPO A CORPO: a disputa entre imagens, da fotografia à transmissão ao vivo, mostra uma seção da produção brasileira contemporânea em fotografia, cinema e vídeo, através de sete trabalhos desenvolvidos por artistas e coletivos em parceria com os curadores Thyago Nogueira, coordenador de fotografia contemporânea da IMS e editora da revista ZUM, e Valentina Tong (assistente).

Os artistas foram convidados a pensar no retrato, individual ou coletivo, e em como as imagens podem nos ajudar a ver os conflitos sociais que surgiram no Brasil nos últimos anos. O lema da exposição é o uso do corpo como elemento de representação social e ação política – seja pela presença física e simbólica nos espaços públicos, seja como veículo que conduz a câmera ou como local de expressão da individualidade, que reúne e separa as pessoas. indivíduos.

Bárbara Wagner estreia o trabalho Procurando o 5º elemento, nome do reality show criado em 2016 para escolher o novo MC que integraria o portfólio de um famoso produtor de funk de São Paulo. O artista, que fazia parte da equipe do concurso, registrou mais de 300 meninos, que liberaram seus corpos e vozes na frente de um júri. O trabalho, composto por 52 fotografias e um vídeo com as apresentações, retrata uma geração acostumada a selfies e redes sociais, que sabem usar pose e encenar para satisfazer seus desejos, disputar um lugar ao sol e se levantar socialmente.

Bárbara tem se dedicado a estudar a relação entre manifestações artísticas populares, especialmente musicais, e as novas formas de produção e circulação de imagens. O assunto também aparece no filme Terremoto santo, realizado em colaboração com o artista Benjamin de Burca, e que estreia nesta exposição. Terremoto santo é um documentário musical com jovens da Zona da Mata de Pernambuco que sonham em gravar um vídeo gospel. A expressão musical é uma parte importante da liturgia evangélica da região, que permite aos jovens usar sua imagem e voz para buscar uma nova maneira de trabalhar. O desempenho na frente da câmera também revela aspectos sociais, econômicos e estéticos da prática pentecostal.

Eu, mestiço, é o novo trabalho do artista Jonathas de Andrade, realizado a partir de uma pesquisa sobre raça e classe no interior do Brasil, realizada nos anos 50 pela UNESCO. Na pesquisa original, fotografias de pessoas com diferentes tons de pele foram usadas como base para um questionário sobre quem parecia mais bonito, rico ou inteligente, entre outros atributos. No novo trabalho, Jonathas produziu uma série de retratos de pessoas de várias partes do país, exibindo reações e poses variadas. Impresso em papelão barato, as fotografias se referem aos clichês visuais da antropologia e da publicidade e invertem o sentido da pesquisa para nos fazer pensar sobre a relação que estabelecemos com as imagens fotográficas. Eu, um mestiço – título que faz referência à obra-prima Eu, um negro, do cineasta Jean Rouch – discute os riscos de julgar os outros pelas aparências e expõe o racismo latente em nossa sociedade.

O coletivo Mídia Ninja apresenta o trabalho #Ao vivo, com monitores distribuídos por todo o espaço expositivo que mostra as transmissões feitas ao vivo pelo grupo entre 2013 e 2017, além de transmissões ao vivo do que acontece no país durante o período em que o espetáculo está em exibição. É a primeira vez que o coletivo vê as transmissões ao vivo como um corte específico em uma produção que inclui fotos, vídeos e relatórios. O foco nessas transmissões nos permite ver uma linguagem estética específica para esse tipo de produção audiovisual, que cresceu com demonstrações nas ruas e o uso de equipamentos baratos, de baixa qualidade e alta conexão. Nos últimos anos, esses jovens construíram um canal de circulação de imagens que permite que milhares de pessoas alinhadas ao coletivo transmitam um evento ao vivo. A profusão de transmissões deu origem a um tipo de cinema de rua coletivo, com um vocabulário de imagens pixeladas, frases improvisadas e uma longa duração que começa a ser assimilada. É na forma, não apenas no conteúdo, que reside a contribuição estética e política da Ninja Media.

A nova instalação A máscara, o gesto, o papel, da artista Sofia Borges, é o resultado de uma viagem a Brasília em fevereiro de 2017, a convite dos curadores, numa época em que a atuação parlamentar ganhava peso na disputa política. Sofia produziu seu trabalho nas instalações do Congresso Nacional, durante a eleição da presidência do Senado Federal. Os dez quadros da instalação são compostos de duas faces. Por um lado, mostram fotografias de bocas reproduzidas em pinturas que homenageiam os ex-presidentes da casa. Por outro lado, exibem gestos fotografados pelo artista durante as sessões legislativas. Suspensas por uma corda no meio do espaço expositivo, as pinturas com bocas e gestos mostram a gramática da atividade política e o sistema de freios e contrapesos que caracteriza jogos de poder no Brasil e em qualquer outra parte do mundo.

Em A resistência do corpo, Letícia Ramos cria um ambiente controlado para testar as reações de um corpo a atividades ligadas a manifestações de rua. Fotografando com câmeras, bonecas e modelos, o artista testa o arremesso de objetos, o impacto dos jatos de água e a comunicação pelos telefones celulares, simulando o repertório visual de estudos científicos, como os feitos pelo casal de engenheiros americanos Frank e Lilian Gilbreth. Ao retomar os estudos sobre a eficiência dos corpos feitos após a Revolução Industrial para aumentar a produtividade dos trabalhadores, o trabalho discute a representação visual da violência e mostra como as imagens – algumas quase abstratas – podem servir como uma forma de opressão real ou simbólica.

A exposição também exibe o livro Postais para Charles Lynch, do coletivo Garapa, premiado com a Bolsa de Fotografia ZUM / IMS. Atordoados por dois casos notórios de linchamento em 2014, os três membros do coletivo decidiram enfrentar o problema da violência nas imagens, construindo um livro de manifesto. O livro reúne quadros manipulados, um roteiro fictício – que obterá leituras dramáticas durante a exposição – e uma fita com vídeos de linchamento extraídos do YouTube, formando um arquivo fúnebre de barbárie bruta.

Enquanto Bárbara, Jonathas e Garapa interrogam antropologia e sociologia para desfazer estereótipos e desmantelar preconceitos, Sofia e Letícia constroem um vocabulário fotográfico que ajuda a enxergar os dilemas da representação política. Para aumentar a interação dos visitantes com as obras, os artistas foram desafiados a explorar novos suportes e formas de instalação de exposições.

Ao refletir sobre a maneira como produzimos e consumimos imagens, o CORPO A CORPO nos faz encarar a distância entre quem somos e quem gostaríamos de ser e mostra como os clichês visuais podem ser um carimbo violento.

Artistas
Bárbara Wagner (Brasília, 1980) – Seu projeto de Mestrado em Cerimônias foi premiado pela Bolsa de Fotografia ZUM / IMS (2015). Trabalha com o artista Benjamin de Burca (Munique, 1975), com quem participou do 33º Panorama da Arte Brasileira, São Paulo (2013) e da 32ª Bienal de São Paulo (2016), entre outros. Seu trabalho Bye Bye Germany! Melody of Life, também em parceria com Benjamin de Burca, foi selecionado para o Skulptur Projekte Münster.

Garapa – Coletivo formado em 2008 por Leo Caobelli (Pelotas / RS, 1980), Paulo Fehlauer (Mal. Cândido Rondon / PR, 1982) e Rodrigo Marcondes (São Paulo, 1979). Ele foi um dos ganhadores da Bolsa de Fotografia ZUM / IMS (2014) com o projeto Postais para Charles Lynch.

Jonathas de Andrade (Maceió, 1982) – Trabalha com fotografia, instalação e vídeo. Exposições recentes incluem as do New Museum, Nova York (2017), Museu de Arte de São Paulo (2016-2017), MoMA (2017) e Bienal de São Paulo (2016 e 2010).

Letícia Ramos (Santo Antônio da Patrulha / RS, 1976) – Trabalha com cinema, fotografia e instalação. Participou de exposições na Tate Modern, em Londres (2007) e no Tomie Ohtake Institute, em São Paulo (2014). Em 2013, seu projeto de microfilme foi premiado pela Bolsa de Fotografia ZUM / IMS.

Ninja Media (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) – Rede de ativistas fundada em 2013, baseada na rede Fora do Eixo, tem milhares de seguidores e está entre as maiores iniciativas de mídia independentes da América Latina e do mundo.

Sofia Borges (Ribeirão Preto / SP, 1984) – Expôs seu trabalho em exposições no Museu Berardo, em Lisboa (2013), e na Foam, em Amsterdã (2016). Membro da 30ª Bienal de São Paulo (2012). Em 2016, lançou o livro The Swamp, da Editora Mack, do Reino Unido, vencedor do The First Book Award.

O Instituto Moreira Salles
O Instituto Moreira Salles é uma instituição singular no cenário cultural brasileiro. Possui ativos importantes em quatro áreas: fotografia, com a maior parte do material, além de música, literatura e iconografia. O Instituto também ganhou fama por suas exposições, destacando artes visuais de artistas do Brasil e do exterior; e tem uma queda por cinema.

O Instituto Moreira Salles é uma organização sem fins lucrativos fundada pelo diplomata e banqueiro Walter Moreira Salles em 1992, com a criação de seu primeiro centro cultural em Poços de Caldas (MG). Posteriormente, o instituto também começou a operar em São Paulo (1996), em uma mansão localizada no bairro de Higienópolis e no Rio de Janeiro (1999), em uma antiga residência da família Moreira Salles, construída em 1951 com projeto arquitetônico da Olavo Redig de Campos e paisagismo de Burle Marx.

As atividades do IMS são apoiadas por uma doação inicialmente fornecida pelo Unibanco e posteriormente adicionada pela família Moreira Salles. Com sites em três cidades – Poços de Caldas, no sudeste de Minas Gerais, onde o Instituto nasceu há 20 anos; Rio de Janeiro; e São Paulo – o IMS lança catálogos de exposições, livros de fotografia, literatura e música, além da Revista ZUM, dedicada à fotografia contemporânea no Brasil e no mundo, e serrote, publicação trimestral de ensaios e idéias.

Na conservação, organização e disseminação de suas coleções, o IMS possui imensas tarefas. A fotografia cuida de cerca de 2 milhões de imagens, desde os testemunhos mais importantes do século XIX – e aqui surgem as esplêndidas imagens de Marc Ferrez – até coleções relevantes que cobrem quase todo o século XX. Neste último, nomes como Marcel Gautherot, José Medeiros, Maureen Bisilliat, Thomaz Farkas, Hans Gunter Flieg e Otto Stupakoff, entre outros, devem ser registrados. Em 2016, foi adquirida a coleção de jornais do grupo Diários Associados no Rio de Janeiro, com cerca de 1 milhão de itens, e é uma prioridade do Instituto incorporar imagens do século XXI em suas coleções. Esse conjunto formidável de coleções e obras completas dos artistas credenciam o IMS como a instituição fotográfica mais importante do país.

Casas IMS Paulista em São Paulo
Inaugurado em 20 de setembro de 2017, o IMS Paulista abriga todo o programa organizado pelo instituto na cidade. Em 2017, o projeto do escritório Andrade Morettin Arquitetos ganhou o prêmio de melhor obra arquitetônica em São Paulo, concedido pela APCA na categoria Arquitetura e Urbanismo.

São nove andares, todos com altura dupla, em um edifício feito de conceitos sustentáveis. Para o arquiteto Marcelo Henneberg Morettin, um dos maiores desafios foi solucionar um museu vertical. Uma das soluções encontradas foi a de transpor o ambiente social e de entrada, a IMS Square, para o quinto andar, acessível diretamente do espaço livre no térreo pelas escadas rolantes.

Além das áreas de exposição, com mais de 1.200 metros quadrados, o IMS Paulista também possui um cinematógrafo – onde ocorrem filmes, eventos musicais, seminários e debates -, uma biblioteca de fotografia, salas de aula, a livraria IMS da Travessa e o café. -restaurante Balaio.