OSSO Exposição – apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga, Tomie Ohtake Institute

Diante de questões humanitárias urgentes, o Instituto Tomie Ohtake oferece-se como uma plataforma para a realização de um projeto único, unindo os territórios da Arte e da Justiça, em parceria com o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) e com a participação de um grupo de artistas.

Na OSSO – Exposição-apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga, os trabalhos reunidos e os debates propostos visam iluminar o tema destacado na sociedade brasileira: igualdade de direitos constitucionais básicos.

O Instituto Tomie Ohtake busca incluir em seu programa propostas que, além das artes visuais, alcancem outros campos da cultura, como a literatura (José Saramago: a consistência dos sonhos); teatro (Arena conta à Arena 50 anos), cinema (Kurosawa – criando imagens para o cinema) e ciência (Arte e Ciência – Nós entre extremos).

A exibição
Para a exposição, o curador do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada, convidou e teve a adesão imediata de 29 dos artistas brasileiros mais relevantes. O título “osso” justifica-se pela escolha de obras produzidas a partir de elementos mínimos, os quais podem aludir de maneira sintética à fragilidade e crueza dessa questão “o direito de defesa”. De acordo com Miyada, “a experiência sensível desta exposição será de vastidão e emergência: caminhar por um amplo espaço pontualmente ocupado por proposições precisas – às vezes pontuais como um toque, às vezes afiadas como um bisturi. Eles não são apenas discurso de trabalho, mas atitude de trabalho ”. Todos os artistas responderam diretamente ao convite para integrar a exposição a essa causa.

Cerca de dois terços dos artistas participam de obras existentes, o restante com obras inéditas ou feitas especialmente para a exposição. Cildo Meireles, por exemplo, mostra Cruzeiro do Sul (1969), um cubo de madeira de 9 mm de madeira apresentado diretamente no chão em uma sala vazia; consiste em uma seção de pinheiro e outra de carvalho, madeira usada pelos povos indígenas para produzir fogo por atrito. Carmela Gross refaz o desenho de grafite na parede Águia (1995), originalmente parte da instalação do artista na antiga prisão municipal de Santos. Paulo Bruscky remontará simbolicamente a exposição em que apresentou seu Nadaísta Manifesto (1974) – lançado na época como uma forma de protesto silencioso contra a censura. Nuno Ramos mostrará o livro em branco de 896 páginas de Balada (1995/2015) perfurado por um tiro de pistola,

No grupo de convidados, há representantes de diferentes gerações e regiões do país – de Bené Fonteles (1953, Bragança, Pará. Mora em Brasília) a Gustavo Speridião (1978, Rio de Janeiro), por exemplo. Uma parcela significativa dos participantes se destaca pela dedicação contínua a debates sobre preconceito e violência, como Rosana Paulino, Jaime Lauriano, Paulo Nazareth, Dalton Paula e Moisés Patrício.

Lista de artistas participantes: Adriano Costa, Alice Shintani, Anna Maria Maiolino, Bené Fonteles, Carmela Gross, Cildo Meireles, Clara Ianni, Dalton Paula, Fabio Morais, Fernanda Gomes, Graziela Kunsch, Gustavo Speridião, Ícaro Lira, Irã do Espírito Santo, Jaime Lauriano, Jonathas de Andrade, Maria Laet, Miguel Rio Branco, Moisés Patrício, Nelson Félix, Nuno Ramos, Pablo Lobato, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth, Raphael Escobar, Rosana Paulino, Sonia Gomes, Tiago Gualberto e Vitor Cesar.

Além dos trabalhos em exibição, em uma sala anexa, serão apresentados documentos ligados direta e indiretamente ao caso de Rafael Braga – a compilação e edição de dados e textos também é resultado da parceria entre as equipes da Tomie Ohtake Instituto com o IDDD.

Rafael Brage
O jovem negro do Rio era catador de latas quando, nas manifestações de junho de 2013, foi preso por carregar duas garrafas de plástico, uma para desinfetante e outra para alvejante. A promotoria disse que ele carregava materiais inflamáveis ​​que seriam usados ​​para produzir explosivos, mas cuja aptidão incendiária foi contestada por um relatório do Esquadrão de Bombas da Coordenação de Recursos Especiais da Polícia Civil. Mesmo assim, Rafael foi o único cidadão brasileiro preso no contexto dos atos que foram condenados à prisão. Condenado a quatro anos e oito meses sob um regime inicial fechado, em dezembro de 2015, ele passou para o regime aberto, por cumprir os requisitos legais.

Rafael trabalhava como assistente de serviços gerais no centro do Rio de Janeiro e usava uma tornozeleira quando, em janeiro de 2016, foi preso novamente. Segundo a versão policial, o jovem caminhava pela Vila Cruzeiro, norte do Rio de Janeiro, quando teria sido pego com 0,6 g de maconha, 9,3 g de cocaína, além de um foguete. Rafael, que nega todas as acusações, afirma ter sido vítima de violência e extorsão policial. Há controvérsias sobre a veracidade do ato e houve uma contradição entre as declarações da polícia militar, as únicas testemunhas da acusação. A testemunha de defesa, que afirma que Rafael não usava drogas no momento de sua prisão, teve seu testemunho desacreditado pelo juiz. No final de abril de 2017,

Apesar do acúmulo de infortúnios que contribuíram para a relativa publicação deste caso, ele não é isolado nas estatísticas brasileiras. Para Hugo Leonardo, vice-presidente do IDDD, “a juventude é um símbolo da crescente população carcerária brasileira. A história de Rafael é semelhante à de tantos outros jovens que são incapazes de escapar de uma lei criminal cada vez mais ampla e violenta. Rafael também representa o destino cíclico angustiante da população periférica egressa do sistema prisional ”.

IDDD
Em julho de 2000, preocupado com a intolerância ao direito de defesa e a presunção de inocência, o Instituto de Defesa da Defesa do Direito (IDDD), uma organização da sociedade civil de interesse público, foi fundado por um grupo de advogados criminais.

Desde a sua fundação, o principal desafio do IDDD tem sido sensibilizar a sociedade para os cuidados que devem ser tomados com acusações injustas e julgamentos oportunos, demonstrando que essa precaução é um critério para nos afastar de um estado totalitário e opressivo. E que essa é a suposição da liberdade humana, que não pode ser relaxada de forma alguma, sob o risco de colocar a própria democracia em risco.

Para o IDDD, apresentar a necessidade desse debate à sociedade, significa fornecer uma ampla discussão sobre o que é o processo de criminalização e como o direito penal e o encarceramento em massa são as maiores demonstrações do agravamento dos conflitos sociais.

Tomie Ohtake Institute
O Instituto Tomie Ohtake, aberto desde 28 de novembro de 2001, é um dos poucos espaços em São Paulo que foram projetados com o objetivo específico de realizar exposições nacionais e internacionais de arte, arquitetura e design.

Honrando o artista que recebeu seu nome, o Instituto abriga exposições que mostram os desenvolvimentos artísticos nas últimas seis décadas, bem como movimentos artísticos anteriores que contribuem para uma melhor compreensão do período em que Tomie Ohtake viveu e trabalhou . Desde a abertura de suas portas ao público, o Instituto já realizou espetáculos inéditos no Brasil, incluindo Louise Bourgeois, Josef Albers, Yayoi Kusama, Salvador Dalí, Joan Miró, entre outros.

Além do programa de exibição pioneiro – ampliado por meio de um programa paralelo de debates, pesquisa, produção de conteúdo, trabalho de arquivo e publicações – o Instituto Tomie Ohtake, desde a sua fundação, realizou pesquisas significativas sobre abordagens para o ensino de arte contemporânea. Isso se manifesta no pioneirismo de novos métodos de treinamento para professores e alunos de escolas públicas e privadas, um programa de eventos aberto a todos e projetos projetados para incentivar novas gerações de artistas a se desenvolver e prosperar.