Arte Portuguesa, Razões e Emoções, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Portugal

A coleção da exposição “Arte Portuguesa, Razões e Emoções” abrange grande parte do seu arco temporal, de meados do século XIX até a década de 1980, ocupando todas as galerias do Museu, da ala Serpa Pinto. Começa com o retrato, tema do século XVIII raramente abordado em diálogos geracionais de coletivos de artistas e com obras desconhecidas de Miguel Lupi, Luciano Freire, Veloso Salgado, Duarte Faria e Maia e Constantino Fernandes.

Apresentam-se afinidades e permanências entre paisagens românticas e naturalistas, embora distintas na exaltação do sentimento e tratamento da luz natural, simbolismos nostálgicos do final do século XIX, de obras importantes e de autores pouco referenciados como António Patrício e José de Brito, e destaca um conjunto de pinturas inéditas do Legacy Veloso Salgado, recentemente incorporado.

O senso de modernidade das primeiras décadas do século XX, expresso pelos vínculos de Amadeo de Souza-Cardoso com a vanguarda internacional, especialmente suas propostas abstracionistas, articula-se com os movimentos de contestação de meados do século XX e os novos parâmetros figurativos de Paula Rego, nas principais galerias do Museu. São raras as obras de Emmérico Nunes, António Soares, Abel Manta, Bernardo Marques, Mily Podez, Jorge Barradas, Hein Semke, Jorge Oliveira e as magníficas colagens de Jorge Vieira.

Esta jornada de cento e cinquenta anos da arte portuguesa permite abordagens de autores e obras raramente exibidas, contextualizando razões entre emoções e sensibilidades artísticas. A proposta curatorial aponta para uma reflexão sobre implicações sociais e políticas e as noções do modo de ser moderno, desde o século XIX, distinguindo no caminho cronológico as continuidades e mudanças, gostos e conceitos, na arte mais completa coleção. contemporâneo, o próximo e o original, justificando assim o nome deste Museu, fundado em 1911.

Tema
Exposição de Arte Portuguesa. O Reasons and Emotions, composto por pintura, desenho, gravura, escultura, fotografia e vídeo, é dividido em sete núcleos e parte de meados do século XIX, com retratos e paisagens românticos e naturalistas, e vai até os anos 2010.

“Espelhos das almas”, “O poder da imagem”, “Uma cultura moderna”, “Cuidado com a pintura!”, “Formas de comunicação e contestação”, “Idiomas e experimentação”, “Pós-modernismo” são os títulos da sete núcleos.

Espelho das Almas
Enfocando o retrato do tema do século XIX, com obras de artistas como Columbano Bordalo Pinheiro, António Ramalho, Constantino Fernandes ou Veloso Salgado, ambos com obras inéditas, a saber, um retrato do pai do artista do primeiro e o retrato de um japonês do segundo.

O poder da imagem
Do retrato, dirige-se à natureza e ao teatro, como palco do mundo, em um núcleo que começa com a escultura e com uma obra nunca exposta de António Manuel da Fonseca. A conexão com o teatro também está muito presente na arte, um reflexo da sedução da modernidade do século XIX.

Uma cultura moderna
Entra no modernismo com alguns artistas como Sousa Lopes, Bernardo Marques, Antonio Soares, Abel Manta, Eduardo Viana ou Mario Eloy, que introduzem a estética futurista.

Cuidado com a pintura!
Almada Negreiros é o pintor de destaque que, para libertar a pátria portuguesa do espírito de saudade, se opõe à irreverência, servida por um rigoroso e fluido desenho de observação, em pinturas como A Reading, A Nap, Acrobats e Harlequins. , Ballet ou Interior, todos de meados do século XX.

Formas de Comunicação e Contestação
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, novos movimentos artísticos, como abstracionismo, neorrealismo e surrealismo, aparecem aqui nas pinturas de Fernando Lanhas, Tereza de Arriaga, Antonio Dacosta, Vespeira, Mario Cesariny e Jorge Vieira – com colagens. muito pouco conhecidos surreais – ou Alexandre O’Neill.

Idiomas e Experimentação
Um tema para os movimentos artísticos das décadas de 1960 a 1980, nascido da urgência da mudança ditada pela Guerra Colonial e renovada com a revolução de 1974, na qual os artistas já estavam cruzando as belas artes com cenografia, filme ou texto, também um resultado de sua experiência em temporadas em Paris, Londres e Berlim, com o apoio de bolsas de estudos Gulbenkian.

Artistas como Paula Rego, Lourdes Castro, João Vieira, Ana Hatherly, Eduardo Nery José Escada, Antonio Sena, Jorge Pinheiro e Jorge Martins são alguns dos artistas representativos desses movimentos.

Pós-modernismo
os pós-modernistas abrem caminho a vários conceitos, incluindo auto-reflexividade e identidade, distopia da arquitetura modernista ou crítica da paisagem, onde a fotografia foi usada experimentalmente, a paisagem não é ficcionalizada, mas um olhar documental e as obras arquitetônicas modernas são criticadas.

Julião Sarmento, Fernando Calhau, Victor Pomar, Nuno Cera, Paulo Catrica e Francisco Tropa são alguns dos artistas representados neste último núcleo da exposição.

Característica da arte portuguesa
A contemporaneidade da arte portuguesa apresenta momentos significativos de ruptura, a partir dos anos 60, através do trabalho de autores fundamentais da neo-vanguarda, rompendo com os valores modernistas herdados da política cultural do Estado Novo. A Revolução democrática de 1974 marca o início de um novo contexto político, social e cultural que determinará o caráter experimental e heterogêneo da arte portuguesa nas décadas seguintes. O panorama artístico das décadas seguintes, até o final do século XX, será marcado pela autonomia das práticas artísticas e pela consagração de novas línguas por alguns dos artistas nacionais mais consagrados, integrando a arte portuguesa no cenário internacional.

A coleção do Museu Nacional de Arte Contemporânea apresentou algumas das transformações que ocorrem na arte portuguesa desde os anos 1960, são particularmente evidenciadas.

Eventos e viagens

Cultura (1962)
Kultur é a primeira abordagem para o que seria a produção mais extensa e talvez característica de Joaquim Rodrigo. Rodrigo misturou as quatro cores principais de sua teoria já definida (vermelho, amarelo, branco e preto) em um fundo ocre, inscrevendo algumas placas com as mesmas cores, preenchendo áreas ou desenhando seus contornos.

Este trabalho alude a um episódio retirado da vida política nacional, que apenas foi reconhecido atualmente, foi registrado por uma pintura que amplia seu domínio do mundo e a diversidade natural de eventos que compõem um tempo.

A figuração é esquemática e sintética e utiliza contornos topográficos, aderindo estritamente aos elementos bidimensionais já familiares dos trabalhos anteriores de Rodrigo. A narrativa também está presente e infere uma articulação dos sinais visuais dispostos isoladamente no plano. As afinidades com a cartografia são claras e constituem nossa compreensão da pintura de Joaquim Rodrigo a partir desta fase, que revela um arranjo de pequenas percepções, associadas a um movimento, uma jornada ou, mais geralmente, parte de uma jornada.

A paisagem, que inevitavelmente se refere a um todo, desaparece dentro de um campo de múltiplas forças que constituem as percepções de que o pintor cartografa como incidentes, isolados em sua singularidade, mas aparentemente transportados pelo movimento constantemente inferido. Os signos sugerem cores diferentes, organizadas em estrita conexão com sua distribuição dentro do layout perpendicular, que definem um absoluto aqui e agora a partir do qual as dimensões de espaço e tempo criadas pela pintura se desdobram.

Santa Maria (1961)
As iniciais no título desta peça cifram o nome de Santa Maria, forro que foi galardoado por Henrique Galvão para chamar a atenção da comunidade internacional para a situação política em Portugal. Esta pintura inicia um novo momento na arte portuguesa.

Este episódio é narrado por sinais dispostos em uma grade ortogonal estrita e orquestrado em um fundo verde-água agitado, onde o centro óptico corresponde ao centro da pintura. Rodrigo usa três cores primárias sobre o fundo em formas que foram desenhadas em elevação, planta ou seção transversal, renderizando uma síntese eficiente de informações.

A imagem assume um valor significante que permite que a pintura funcione como a escrita ou narrativa de episódios, marcando a pintura como um registro aberto ao mundo e suas contingências. Os signos gráficos são misturados com outros signos visuais em articulação com a dimensão pictográfica escrita da obra de Joaquim Rodrigo.

Ironia e ilusão

Os amantes (1965)
Os amorosos, de Rolando Sá Nogueira, é uma evocação irônica e dispersa. Esta pintura revela as contradições suscitadas na cultura e sociedade portuguesas entre os novos modos ditados pelo desenvolvimento e consumo – adotados pela arte – e a persistência dos valores morais e ideológicos tradicionais. Acessórios, sobras da vida contemporânea e cartões postais, com um toque de fin-de-siècle, denunciam a abordagem hipócrita da sexualidade na época.

As relações idílicas de amor são ridicularizadas pela depreciação, associação e transferência da imagem fotográfica e pelas relações de desordem justaposta e cumulativa de diversos fragmentos de diferentes fontes e elementos pictóricos. De caráter gestual e expressivo, essa ordem é próxima à dos artistas Rauschenberg e Kitaj.

Letreiro (1993-2006)
Esta peça é o resultado de uma pesquisa fotográfica realizada nos seguintes bairros do Porto: Contumil, Pasteleira, ilhas da Boavista e Lapa, onde é comum a construção ilegítima. O uso generalizado de tendas ilegítimas como um anexo físico para cidades e residências suburbanas está revelando uma mentalidade sociológica.

Nesta peça, a artista, Ângela Ferreira, utiliza esses materiais de construção industrializados de má qualidade e lhes confere um significado conceitual e escultural. Ao fazê-lo, o artista destaca a ironia de uma característica arquitetônica nacional comum feita pelos cidadãos comuns.

A reflexão de aspectos relativos à natureza do tempo e sua assimilação na imagem do real, bem como encantamentos divertidos ou ilusórios, sustentam outros mecanismos desenvolvidos pelo artista René Bertholo. Além da influência cinematográfica imediata de Tinguely, a produção de Bertholo é mais tecnológica e cenográfica e talvez mais próxima dos divertidos mecanismos da realidade de Calder.

Este trabalho desenvolve os mecanismos que ativam nossa percepção da ação, condicionando nossa aceitação do virtual como realidade. Essa engenhoca coloca referentes leves em ação, criando a ilusão de uma paisagem animada. Deslocando o movimento de um sujeito concreto e imediato – o barco – para a dimensão imperceptível das nuvens, uma poética mecânica e idílica é instalada. O tempo se representa, sem evoluir, como é constantemente espelhado.

Sinais e gestos

Sem título (1972)
A carta, em vez de escrever, afirma-se como um sinal na página em branco. Mas o gesto é o que nos foi dado para ser lido. A ação do corpo durante o processo de produção acrescenta uma dimensão performativa à pintura de João Vieira. O gesto se concentra na mancha, não mais um traço na esteira larga e firme da espátula. Uma consistência material acentuada confere ao gesto uma aparência monumental e o ergue como presença formal.

As letras são cromaticamente isoladas, como sinais autônomos que atingiram seu limite. São os elementos plásticos que organizam e rimam a composição, estruturando-a em uma grade ortogonal onde adotam rotações e inversões, possibilitando uma ampla variedade de combinações.

Lança sombra de René Bertholo (1964)
O ano de 1964 e os anos seguintes marcam o início da exploração de Lourdes Castro na silhueta e no contorno de figuras isoladas e acompanhadas em poses instantâneas e caracteristicamente fotográficas, pintadas em tela. Lourdes Castro disse que, além da sombra da silhueta, deve haver um contorno circunscrito ao contorno de uma ausência. Definidas por seus limites e identificadas por seus títulos, essas figuras formam uma galeria de personagens com quem ela compartilha sua vida cotidiana. A proximidade da arte e da vida encontra uma relação possível através desse vestígio, como na cartografia dos instantes.

Profundo (1975)
Os sinais da escrita permanecem legíveis, mas não interpretáveis, como o resto de um movimento que nos leva a ler não o produto, mas o processo de produção de António Sena. O desvio da escrita é uma marca inimitável de um gesto, do corpo do artista disperso em uma superfície texturizada expressivamente trabalhada.

Sinais dispersos no vazio ao lado de traços lineares geométricos dão origem a um conjunto de densidades espaciais. Entre a opacidade, a surpresa vem do encontro de uma palavra mar que, juntamente com o título Deep, age como um significado de isca: o poder nominalista do nome ativa a capacidade de evocação, trazendo todas as referências de que é depositário, conjunto de sensações sem relações analógicas que convergem no azul profundo e profundo.

Museu Nacional de Arte Contemporânea, Portugal
O Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, foi um dos primeiros museus de arte contemporânea a serem criados em todo o mundo. Localizado no centro histórico de Lisboa, com a principal coleção de arte portuguesa da segunda metade do século XIX até os dias atuais, o museu é uma visita obrigatória para a compreensão e apreciação da arte portuguesa moderna e contemporânea. O programa de exposições temporárias é de grande importância dentro do escopo geral das atividades do museu. A apresentação da coleção é renovada periodicamente em seus segmentos temáticos ou temporais, de acordo com um trabalho sustentado de pesquisa histórica e crítica, mas o programa não se limita à arte portuguesa,

O Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado foi criado por decreto do governo em 26 de maio de 1911. Nasceu da divisão do antigo Museu Nacional de Belas Artes no Museu Nacional de Arte Antiga, que herdou do antigo as obras produzidas antes de 1850 e permaneceram no Palácio das Janelas Verdes, e no Museu Nacional de Arte Contemporânea, que incluiu todas as obras concluídas após essa data e foi abrigado no Convento de S. Francisco, em uma área vizinha à Academia de Belas Artes. A criação de uma rede de museus, que espalhou a extensão do país, foi a realização de um projeto baseado no conceito de iluminação humana do século XVIII, dotando o país com as ferramentas necessárias para salvaguardar e exibir a arte do país. A criação de um museu de arte contemporânea foi,

A habitação, embora apenas temporariamente, do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Convento de S. Francisco, localizou-a simbólica e oportunamente na área frequentada pelos artistas dos períodos representados no museu. Ocupava os grandes salões antigos, anexos de conventos, onde eram realizadas as exposições dos românticos e dos naturalistas.