Paleontologia, Museu Nacional do Brasil (Restauração Digital)

O Museu Nacional possuía uma das coleções paleontológicas mais significativas da América Latina, totalizando cerca de 56 mil espécimes e 18.900 registros, divididos em núcleos de paleobotânica, paleoinvertebrado e paleovertebrado. Consistia principalmente de fósseis de plantas e animais, do Brasil e de outros países, além de reconstruções, réplicas, modelos e bolores. A coleção destacou-se pela presença de núcleos de reconhecido valor científico e histórico, coletados em tempos remotos, contemporâneos ao surgimento da própria paleontologia.

Os primeiros fósseis enviados para a instituição foram escavados no Uruguai em 1826, pelo naturalista prussiano Friedrich Sellow. Nas décadas seguintes, a colaboração de naturalistas estrangeiros seria fundamental para a expansão da coleção paleontológica (especialmente o italiano Giovanni Michelotti, entre 1836 e 1837), bem como as aquisições feitas por Frederico Leopoldo César Burlamaque, então diretor-geral da o museu, responsável por reunir conjuntos de fósseis de ictiossauros do Jurássico da Inglaterra e mamíferos do Nordeste do Brasil. No último terço do século XIX, a coleção foi bastante ampliada graças a expedições realizadas pela Comissão Geológica do Império, liderada por Charles Frederick Hartt e integrada por Orville Derby. No século XX, já com a oferta de profissionais locais e paleontólogos especializados, a instituição pôde ampliar os estudos, investigações e expedições que ajudariam a consolidar a natureza enciclopédica de sua coleção paleontológica.

O núcleo de paleobotânica possuía mais de quatro mil espécimes catalogados, representativos da flora fóssil do Brasil e de outras partes do mundo e datados de todos os períodos geológicos. Era composto principalmente de vegetais da Era Paleozóica, especialmente fósseis da era Neopaleozóica, das bacias dos rios Paraná e Parnaíba e Chapada do Araripe, como folhas, frutas, sementes, caules e troncos. Os espécimes da flora de Glossopteris (Glossopteridales) predominaram e, em menor grau, Lepidodendrales, Lycopodiales, Equisetales, Pteridophyta, Ginkgophyta, Cycadophyta, Coniferophyta e Anthophyta. Havia espécimes abundantes notáveis ​​por sua importância histórica – a saber, uma amostra da primeira planta fóssil coletada no país, um tronco da espécie Psaronius brasiliensis, do período Permiano, descrito em Paris pelo botânico Adolphe Brongniart em 1872 – e por o valor científico – como espécimes de folhas dicotiledôneas de sedimentos cenozóicos da Bahia, distinguidos pelo excelente estado de conservação e o conjunto de fósseis de plantas coletados pelos funcionários do museu na Antártica.

O núcleo de paleoinvertebrados foi o mais volumoso da coleção palentológica, totalizando cerca de dez mil registros e 46 mil cópias, provenientes do Brasil e, em menor grau, da América do Norte e Europa. Consistia principalmente de artrópodes fósseis (mosquitos, efemerópteros, libélulas, abelhas, insetos, besouros, aranhas, escorpiões, caranguejos, etc.) Braquiópodes (cópias Mucrospirifer pedroanus, primeiro período fóssil Devoniano coletado e estudado no Brasil, na década de 1870), equinodermes ( observando o vasto conjunto de espécies de ouriços) e moluscos. Entre as peças de origem estrangeira, destacou-se a coleção de fósseis da Bacia de Paris, um conjunto de conchas fossilizadas de bivalves marinhos do Eoceno, oferecido a Dom Pedro II em 1872, por ocasião de sua primeira visita à França. A coleção foi considerada rara devido à destruição dos depósitos fossilíferos ao redor de Paris nos últimos dois séculos.

O núcleo de paleovertebrados abrigava cerca de dez mil espécimes e sete mil registros, com destaque para a fauna fóssil das eras mesozóica e cenozóica coletadas em bacias sedimentares do Brasil em termos de volume. Destacou-se a presença de itens de grande relevância científica, principalmente registros fósseis com preservação de partes moles. Abrangeu principalmente espécimes fósseis de répteis, peixes, mamíferos e aves. Entre os conjuntos da coleção, destacam-se:

Fósseis de peixes, principalmente datados das formações Cretáceo e Crato e Romualdo, na Bacia do Araripe, Ceará, representados na coleção por espécimes como o Calamopleurus audax (que pode atingir até dois metros de comprimento), o Cladocyclus gardneri ( medindo mais de um metro de comprimento), o Araripichthys castilhoi (destacado pela forma arredondada do corpo), além de raios (Iansan beurleni), tubarões primitivos (Tribodus limae) e celacantídeos (Axelrodichthys araripensis);

Um conjunto de fósseis de tartarugas excepcionalmente preservados, a maioria datando da Cretáceo – Araripemys barretoi (a tartaruga brasileira mais antiga conhecida, da Chapada do Araripe), Cearachelys placidoi (a única espécie conhecida na família Bothremydidae no Brasil e o registro mais antigo dessa espécie) grupo no mundo, também da Chapada do Araripe), Bauruemys elegans (tartaruga de água doce coletada na Bacia do Bauru, em São Paulo) etc. – além de outros répteis terrestres e aquáticos fossilizados – ou seja, o esqueleto completo de um Stereosternum ( Lagarto aquático permiano) pertencente ao grupo mais antigo de amiota conhecido, com adaptações à vida na água, também de São Paulo) e um espécime fossilizado de Squamata (coletado nos sítios paleontológicos do Lago Crato, Ceará);

A coleção de registros fósseis de pterossauros, principalmente da Chapada do Araripe e datada do Cretáceo, variando de fragmentos a esqueletos completos e montados, além de reconstruções baseadas nos fósseis originais – espécimes grandes como o Tropeognathus mesembrinus (um dos maiores pterossauros que habitavam Gondwana, com uma abertura de oito metros de largura), o Cearadáctilo (com envergadura média de 5,50 metros), o Anhanguera (envergadura de envergadura de 4,60 metros) e o Tupandactylus imperator (envergadura de envergadura média de 2,50 metros) – bem como registros fósseis de pterossauros estrangeiros, com espécimes da China, como Nurhachius ignaciobritoi (Formação Cretácea, Chaoyang) e Jeholopterus ningchengensis (Jurássico, Formação Tiaojishan);

A coleção de fósseis e reconstruções de esqueletos de dinossauros, composta principalmente por espécimes das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil – como o Maxakalisaurus topai (titanossauro de treze metros de comprimento e nove toneladas de peso, datado do Cretáceo Superior e coletado do Formação Diamantina em Minas Gerais, representada na coleção pelos fósseis originais e pela réplica de seu esqueleto, a primeira reconstrução de um grande esqueleto de dinossauro realizado no Brasil), o Irritator ou Angaturama limai (espinossauro no Cretáceo Inferior com 7,5 metros de comprimento) e peso de uma tonelada, da Chapada do Araripe, presente na coleção com fósseis originais e réplica do esqueleto, e o Santanaraptor (registro fóssil de terópode com 1,6 metros de comprimento, datado do Cretáceo Inferior e coletado na Chapada do Araripe , de excepcional importância para a preservação de tecidos moles, como músculos e vasos sanguíneos). Entre os itens de origem estrangeira, um crânio do Lambeossauro (Cretáceo Superior, da Formação do Rio Judith, Canadá) e uma réplica do crânio do tiranossauro “Stan” (Tiranossauro rex, Cretáceo Superior, da Formação Hell Creek, Dakota do Sul, Estados Unidos);

Fósseis de terapsídeos, distinguindo o esqueleto completo de um dinodontossauro, um dicinodonte de 3,5 metros que viveu entre os períodos Permiano e Triássico, da Formação Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Conjunto de espécimes da mega-fauna extinta do Pleistoceno brasileiro, principalmente mamíferos, como esqueletos completos de preguiças gigantes (Eremotherium laurillardi, de Jacobina, na Bahia, e Glossotherium robustum, coletado no Rio Grande do Sul) e um sabre-tigre dente (Smilodon);
Fósseis de pássaros, destacando o esqueleto completo de um Paraphysornis brasiliensis, um pássaro pré-histórico gigante que viveu no Brasil durante o Plioceno, com uma altura média de 2,40 metros.

Complementando a coleção estavam as reconstruções artísticas de animais pré-históricos da vida, incluindo pterossauros (Thalassodromeus sethi, Tupandactylus imperator) e dinossauros (Irritator, Unaysaurus tolentinoi), um modelo de embrião com o ovo de um tiranossauro rex, feito com base em descobertas na China de ovos atribuídos a grandes dinossauros carnívoros e painéis com reproduções de organismos que habitavam o mar no período devoniano, representando afloramentos fósseis e seres vivos, entre outros itens de natureza didática.

luzes
Da rica coleção de exposições de Paleontologia, apenas parte dela está sendo representada aqui. Entre outras representações da fauna pré-histórica, ilustramos abaixo os esqueletos das preguiças gigantes e do tigre dente de sabre. Há também uma reconstrução de características vivas de um dinossauro brasileiro, uma reprodução de organismos do oceano Devoniano (afloramentos com fósseis e seres vivos) e o esqueleto original de um Dicynodont.

Tigre de dentes de sabre e preguiças gigantes
Eremotherium Spillmann, 1948 Glossotherium Owen, 1840. Smilodon Lund, 1842. Réplicas e peças originais de esqueletos representativos do cenário do Pleistoceno brasileiro, cerca de 1,8 milhão de anos atrás. As preguiças gigantes Eremotherium e Glossotherium, assim como o tigre Smilodon, representavam o que é conhecido como megafauna extinta. Curiosamente, a montagem do exemplar determinado como Eremotherium foi realizada no início do século XX, quando as únicas espécies de preguiças gigantes que se acredita existir no território brasileiro eram o Megatherium Americanum. Por esse motivo, este exemplo é considerado um esqueleto composto, composto de material original de vários indivíduos atribuídos ao gênero Eremotherium e material replicado atribuído ao gênero Megatherium.

Titanosaur (Réplica)
Kellner, Campos, Azevedo, Trotta, Henriques
Esqueleto da constituição óssea de um titanossauro descoberto no município de Prata, Minas Gerais. As rochas deste local pertencem à Formação Adamantina (Grupo Bauru) e remontam à época do Cretáceo Superior – 99,6 a 65,5 milhões de anos. Este exemplo apresenta um comprimento estimado de 13 metros e é representativo dos saurópodes, dinossauros herbívoros que têm pescoços longos e cabeças pequenas. Foi o primeiro dinossauro brasileiro de grande porte montado para exibição no país.

Unaysaurus (reconstituição ao vivo)
Unaysaurus tolentinoi. Azevedo Leal
Reconstituição do fóssil encontrado em sedimentos da Formação Caturrita, no distrito de Água Negra, sul do município de São Martinha da Serra, Rio Grande do Sul. O fóssil representa o primeiro exemplo encontrado no país que pertence ao grupo Plateosauridae – dinossauros de hábitos herbívoros, corpo volumoso e cabeça pequena sustentada por um pescoço longo. O Unaysaurus tolentionoi viveu no período Triássico, 251 a 199,6 milhões de anos atrás.

Tartaruga fossilizada
Araripemys barrettoi
Este exemplo vem dos nódulos calcários da Bacia de Chegada, no nordeste do Brasil, datados do início do Cretáceo – 110 milhões de anos. Os representantes dessa espécie constituem os registros mais antigos de tartarugas descritas no Brasil.

Escorpião fossilizado
Protoishcnurus axelrodoru
Escorpião fossilizado em calcário laminado, originário da Chapada do Araripe, Ceará. Este exemplo é excepcional por sua raridade e excelente estado de preservação. A Chapada do Araripe é um dos principais locais do mundo para enterrar fósseis de antrópodes terrestres. Além de escorpiões, restos fossilizados de aranhas e insetos que viveram no período Cretáceo, há mais de 110 milhões de anos, também ocorrem lá.

Braquiópodes fossilizados
Mucrospirifer pedroanus
Os braquiópodes são animais invertebrados que eram muito abundantes nos oceanos da era paleozóica. Os espécimes foram o primeiro fóssil do período devoniano – aproximadamente 390 milhões de anos – coletados e estudados no Brasil. Seu site foi encontrado em 1870 na região de Ererê, no Pará, por membros da primeira Expedição Morgan, liderada por Charles Frederick Hartt. Posteriormente, foram incorporadas às coleções da Comissão Geológica do Império Brasileiro e hoje fazem parte da coleção do Museu Nacional.

Coleção fóssil da bacia de Paris
Em janeiro de 1872, D. Pedro II foi presenteado com uma coleção de conchas fossilizadas de bivalves marinhos do Eoceno – 45 milhões de anos – da Bacia de Paris, entre as quais existem exemplos de Cardita imbricata Lamarck. Atualmente, essa coleção é considerada rara devido à destruição de locais fósseis na cidade de Paris.

Museu Nacional no Rio de Janeiro
O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a instituição científica mais antiga do Brasil que, até setembro de 2018, figurava como um dos maiores museus de história natural e antropologia das Américas. Está localizado dentro do parque Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, sendo instalado no Palácio São Cristóvão.

O Museu Nacional / UFRJ faz parte do Ministério da Educação. É a instituição científica mais antiga do Brasil e o maior museu de história natural e antropologia da América Latina. Fundada por D. João VI em 6 de junho de 1818, e inicialmente sediada em Campo de Sant’Anna, serviu ao país para promover o desenvolvimento cultural e econômico do país.

Originalmente chamado Museu Real, foi incorporado à Universidade do Brasil em 1946. Atualmente, o Museu faz parte da estrutura acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Museu localizado no Paço de São Cristóvão, de 1892 – residência da Família Imperial Brasileira até 1889 – conferiu-lhe um caráter diferenciado se comparado a outras instituições da região. É o mesmo lugar em que a família real viveu há tantos anos (onde D. Pedro II nasceu e a Primeira Assembléia Constituinte Republicana), e hoje é a interface entre memória e produção científica.

O Museu Nacional abrigava uma vasta coleção com mais de 20 milhões de itens, abrangendo alguns dos registros mais relevantes da memória brasileira no campo das ciências naturais e antropológicas, bem como conjuntos de itens amplos e diversos de diferentes regiões do planeta, ou produzido por povos e civilizações antigas. Formada ao longo de mais de dois séculos através de coleções, escavações, trocas, aquisições e doações, a coleção foi subdividida em coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e antropologia biológica (incluindo os remanescentes do esqueleto de Luzia nesse núcleo). fósseis nas Américas), arqueologia e etnologia. Foi a base principal da pesquisa realizada pelos departamentos acadêmicos do museu – que desenvolve atividades em todas as regiões do país e em outras partes do mundo, incluindo o continente antártico. Possui uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras.