O Museu de São Roque está localizado na igreja e na casa professa de São Roque (Saint Roch), antiga sede da Sociedade de Jesus em Portugal, que, em 1768, tornou-se a sede da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, instituição fundada em 1498 para prestar assistência social à população da capital portuguesa. Mostra um importante conjunto de obras de arte, muitas delas relacionadas à iconografia do santo, uma coleção que cresce ao longo do tempo.
Com esta exposição, o Museu São Roque lembra o papel deste santo como protetor de pragas na Europa.
Nascimento do Culto a Saint Roch
O culto de Saint Roch surge no norte da Itália na segunda metade do século XV. A devoção a este santo, como protetora de pragas, teve uma rápida expansão neste território.
Suas relíquias foram localizadas em 1469 em Voghera, no hospital de Saint Henry, localizado na rota de peregrinação entre o sul da França e Roma. No mesmo ano, a cidade vizinha de Brescia construiu a primeira capela dedicada ao santo que eles evocaram contra a praga. Assim, aparece mais um santo protetor das pragas, numa época em que a principal devoção era São Sebastião.
Em 1478, Brescia sofreu um surto violento de peste. A cidade era governada por Veneza, representada por Francesco Diedo, que se tornaria o primeiro biógrafo do santo. Em 1484, outro surto de peste atingiu Veneza e as relíquias em Voghera são transferidas para Veneza, segundo a lenda, roubadas por um frade chamado Mauro. Em 1489, foi fundada a Scuola Grande de Saint Roch, sede de uma irmandade criada para ajudar a população em tempos de peste.
Difusão da adoração em toda a Europa
O culto de San Roque – relativamente popular em Veneza – se espalha na Europa através da família Imhoff e seus contatos comerciais através do eixo Mainz. Os Imhoff patrocinarão o culto ao santo em Nuremberg e, a partir daí, espalharão o culto ao longo do eixo de Mainz: Colônia, Lovaina, Holanda, Paris e Rouen.
O culto de Saint Roch apareceu na Holanda no final do século XV em manuscritos e missas litúrgicas. Em 1494, com o apoio da Ordem Carmel, foram publicados na França o relato da vida do santo por Jean Phelipot e duas edições do relato de Francesco Diedo.
A Praga em Lisboa
Lisboa, como a maioria das grandes cidades comerciais, como Sevilha ou Veneza, foi devastada várias vezes por surtos de peste no século XVI. Em 1505-1506, um surto de peste atingiu Lisboa. Dois membros da família Imhoff morrem na capital portuguesa. Em 1517, uma abertura no muro chamada “Postigo do Conde” adquire o nome “Postigo de São Roque” (Saint Roch).
Diante de um novo surto, o rei João III ordenou a instalação de um cemitério pestífero próximo ao wicket de Saint Roch em 1523. Lá, um santuário dedicado ao santo também teria sido construído lá. O santuário foi cedido em 1553 aos jesuítas que construíram sua Casa Professada, sede de toda a província portuguesa, que incluía seu vasto império colonial, na Ásia e na América.
Iconografia do Santo
O Museu de São Roque exibe uma das mais antigas narrativas pictóricas dedicadas ao santo, datadas de 1525. Composto por quatro pinturas, cada uma com duas cenas. É baseado no relato escrito publicado por Francesco Diedo.
Nesta primeira pintura, podemos ver claramente duas cenas, uma principal, o nascimento e uma secundária, a partida da casa de seus pais para se dedicar aos pobres. O santo nasceu em Montpellier com uma cruz vermelha no peito, que lhe deu o nome: rouge – Roche. O pai reconhece a paternidade da criança, o fato está sendo comprovado por duas testemunhas, uma reminiscência da lei romana. As roupas e os objetos indicam que era uma família rica. A mãe convalescente toma uma gemada, que era muito comum na recuperação pós-parto. A colher de marfim luso-africana indica o status da família. Na cena secundária, Saint Roch distribui a riqueza de sua família entre os pobres, repetindo o exemplo de São Francisco Assis. Já vestindo roupas de peregrino, ele embarca em uma peregrinação a Roma.
Em Roma, ele cura um cardeal inglês doente de peste e que está à beira da morte. Sua cura foi considerada um milagre por aqueles que testemunharam a cena. Ao pé da cama, a galera – o chapéu do cardeal -, um recipiente com geléia, uma tigela com frutas de romã, outro remédio contra a praga, com uma colher luso-africana de marfim e duas garrafas com pomadas. Na parede, há um pequeno painel representando o Calvário que, curiosamente, segue a norma de representação que seria aprovada décadas mais tarde no Conselho de Trento (1563). Agora curado, o cardeal, com a cruz marcada na testa, apresenta Saint Roch ao papa, falando sobre sua cura milagrosa.
Com o dom de curar os pacientes da praga, Roch vai para Piacenza e ajuda os pacientes no hospital local, mas ele próprio acaba contraindo a praga, sendo forçado a deixar o hospital. A peste bubônica manifesta-se com um inchaço nos gânglios linfáticos, que aparecem principalmente nas virilhas e nas axilas, gerando os famosos bubões que, em alguns dias, se tornaram feridas e, juntamente com outros sintomas, como febre e vômito, levaram à morte em menos do que uma semana. A praga também afetou pessoas jovens e saudáveis. Estima-se que entre 30% a 60% da população da Europa tenha morrido nos anos mais graves, em meados do século XIV. Até o século XVII, continuavam ocorrendo pragas no continente europeu, especialmente no sul. Então, Saint Roch se refugia fora da cidade. Um cachorro traz para ele um pão todos os dias para alimentá-lo, uma lenda importada de São Paulo, o Anacoreta. Um anjo curou sua ferida. Gothardo – o dono do cachorro – o encontrou, se tornando seu primeiro discípulo.
Cenas finais: prisão e morte de Saint Roch. No caminho para sua terra natal, no sul da França, ele foi preso perto do lago Maggiore, sendo acusado de ser um espião. Um juiz condena Saint Roch à prisão. Após sua morte, ele foi reconhecido por sua família materna na prisão pelo estigma com o qual ele nasceu no peito.
A Viagem das Formas
A novidade iconográfica das placas levou à disseminação de seu ciclo pictórico. A mesma iconografia do painel de madeira é aqui representada diretamente em outro ciclo pictórico, cerca de trinta anos depois, também exibido no Museu de São Roque. A composição permaneceu, mas elementos estéticos maneiristas foram adicionados.
A iconografia das tábuas, aqui representada nos azulejos da capela dedicada ao santo, localizada na Igreja de São Roque. Observe a semelhança dessa cena em relação à cura do cardeal inglês.
Museu da Igreja de Saint Roch
O Museu de São Roque foi um dos primeiros museus de arte a serem criados em Portugal. Foi aberto ao público em 11 de janeiro de 1905, com a designação do Museu Thesouro na Capela de São João Baptista, evocando o importante acervo de arte italiana que estava na origem de sua criação. Desde a sua inauguração, foi instalado no edifício da antiga Casa Professora da Companhia de Jesus em Lisboa, um espaço adjacente à Igreja de São Roque, que havia sido doado à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em 1768, após a expulsão dos jesuítas.
Ao longo do século XX, passou por diversas reformas, o que possibilitou acompanhar as mudanças realizadas no campo da museologia. A reforma mais extensa foi realizada entre 2006 e 2008, permitindo ao museu expandir e dobrar sua área de exposição permanente.
Exposição Permanente
O primeiro núcleo de exposições do museu evoca a história da Capela de São Roque, apresentando obras diretamente ligadas a esse local antigo. O núcleo dedicado à Companhia de Jesus documenta os quase duzentos anos de permanência desta Ordem em São Roque. O grupo de Arte Oriental é constituído essencialmente por peças pertencentes à Companhia de Jesus, integrando também obras de arte adquiridas pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ou resultantes de obras de caridade deixadas à Instituição. O acervo da Capela de São João Batista constitui um núcleo autônomo do museu, de particular relevância, pois é a gênese de sua criação. O grupo dedicado à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pretende dar a conhecer a História desta Instituição, expressa em objetos artísticos de valor histórico e simbólico.
Patrimônio de São Roque
O primeiro núcleo de exposições do museu evoca a história da Capela de São Roque, apresentando obras diretamente ligadas a este local antigo.
Após a chegada dos padres da Companhia de Jesus em Lisboa, em 1540, o local de São Roque era o favorito dos jesuítas para a construção de sua igreja e casa professa.
Embora a antiga capela tenha sido demolida, o culto de São Roque foi mantido na igreja atual, que receberia o título de São Roque, tendo sido reservado dentro de uma capela lateral dedicada ao santo que protege os pestíferos.
Entre as obras expostas neste núcleo, há quatro tabelas ilustrando a vida e a lenda de São Roque, pintadas a óleo sobre madeira, pertencentes ao antigo retábulo da capela. Inicialmente atribuída a Jorge Leal e, mais recentemente, a Cristóvão de Utreque, e executada por volta de 1520, cada uma dessas quatro pinturas apresenta simultaneamente dois episódios da vida do santo. Nesse núcleo, tentamos reconstruir o layout original das quatro tábuas, como elas existiriam no antigo retábulo da capela. Assim, as duas primeiras pinturas – Natividade e Adolescência de S. Roque e a milagrosa cura e reconhecimento do cardeal pelo Papa; no topo, haveria os outros dois – permanecer em Placência e prisão e morte beatífica.
Existem também duas lápides inscritas, que constituem um importante testemunho relacionado ao antigo eremitério.
Companhia de Jesus
O núcleo dedicado à Companhia de Jesus documenta os quase duzentos anos de permanência desta Ordem em São Roque, abrindo com um conjunto de retratos de figuras que desempenharam, direta ou indiretamente, um papel de destaque na fundação dessa casa jesuíta: Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, D. João III e D. Catarina da Áustria, os monarcas portugueses que promoveram os jesuítas para Portugal, e São Francisco de Borja, Terceiro Geral da Ordem, apoiador ativo da construção de a Casa Professa de São Roque. Criada em um período de crise para a Igreja Católica Romana, como resultado do movimento reformista iniciado por Martin Luther, que daria origem às igrejas protestantes, a Sociedade de Jesus usou a imagem como um instrumento de propaganda religiosa,
Este núcleo de exposição também é desenvolvido segundo uma lógica temática, subdividida em: iconografia e devoções da Ordem, objetos de uso litúrgico e ornamentação da igreja, devoção a Cristo – paixão e glorificação, encarnação de Cristo e adoração à Virgem , Devoção a Cristo – Natividade e Infância.
Arte Oriental
Com a chegada dos portugueses à Índia em 1498, foram abertos novos caminhos para a economia portuguesa e para a expansão missionária, que tiveram repercussões significativas no nível cultural e artístico. O vasto mundo oriental tornou-se uma etapa importante para eventos que, do ponto de vista evangélico e cultural, colocaram a Companhia de Jesus em grande escala.
Os contatos com as populações locais, por meio da ação missionária, tiveram conseqüências notáveis em termos de arte sacra, com a introdução de novos modelos decorativos, técnicas e materiais orientais e a adoção de formas copiadas da arte oriental. Esse fenômeno, que foi sentido nas várias disciplinas artísticas, proporcionou uma renovação da arte cristã, como testemunhado pela coleção de objetos de arte oriental neste museu.
Embora constituído essencialmente por peças pertencentes à Companhia de Jesus, este núcleo também inclui obras de arte adquiridas pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, ou resultantes de obras de caridade deixadas à Instituição.
O discurso expositivo é organizado de acordo com uma lógica geográfica, de modo que as peças são agrupadas por suas regiões de origem – Oriente Próximo, Índia, Japão e China. Uso litúrgico e ornamentação da igreja, Devoção a Cristo – Paixão e Glorificação, A Encarnação de Cristo e o culto à Virgem, Devoção a Cristo – Natividade e Infância.
Capela de São João Batista
A Capela de São João Batista é uma das empresas mais divulgadas do reinado de D. João V (1707-1750). Monarca interessado em apresentar a imagem de um estado reformado e refinado que não era nada menos que os principais tribunais europeus da época, D. João V promoveu um vasto programa de pedidos de obras de arte, incluindo esta capela.
É nesse contexto que deve ser prevista a encomenda da capela de São João Batista, em 1742, a dois prestigiados arquitetos italianos, Luigi Vanvitelli e Nicola Salvi, que deve ser construída em Roma entre 1742 e 1747, incluindo também um conjunto de peças de culto em jóias e vestimentas, que se destacam como um testemunho singular da arte romana do século XVIII, sem paralelo nem na própria Itália.
O acervo da Capela de São João Batista constitui um núcleo autônomo do museu, embora ainda pertença ao período da experiência dos jesuítas em São Roque.
Esse núcleo é particularmente relevante para a história do museu, pois é a gênese de sua criação.
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
O núcleo dedicado à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pretende dar a conhecer a História desta Instituição, expressa em objetos artísticos de valor histórico e simbólico, como a pintura que representa O Casamento de Santo Aleixo, em que D. Álvaro da Costa é representado, primeiro Ombudsman da Irmandade da Misericórdia de Lisboa; o Bastão do Provedor, em prata, que já foi usado como peça cerimonial, na posse dos Provedores da antiga Confraria da Misericórdia.
Destacam-se outras obras, a saber, o conjunto de Bandeiras Processionais da Misericórdia, dos séculos XVIII e XIX, encomendadas pela Santa Casa após sua instalação em São Roque.
Também está representada uma seleção de peças artísticas de alta qualidade, em pintura, escultura e joalheria, resultantes de legados, doações e aquisições.