Etnologia Indígena Brasileira, Museu Nacional do Brasil (Restauração Digital)

A coleção de etnologia indígena brasileira no Museu Nacional está entre as maiores do gênero, cobrindo mais de 30.000 objetos, produzidos por mais de cem grupos indígenas, de todas as regiões do Brasil. Esse amplo conjunto – formado desde o início do século XIX, por meio de coleções de campo, aquisições, legados e doações – reflete a diversidade e a riqueza cultural das culturas nativas brasileiras, documentando diversos aspectos de suas tradições, hábitos, vida cotidiana, organização social, crenças. e rituais. O amplo período de tempo desse conjunto, composto por peças produzidas desde meados do período colonial, também permite analisar o desenvolvimento da produção de material indígena, bem como as influências e impactos sofridos, desde o contato com os colonizadores até a Nos Dias de Hoje. Destacam-se os conjuntos referentes a cestaria, cerâmica, instrumentos musicais, arte de penas, armas e armadilhas dos povos indígenas.

O núcleo de cestaria do museu é composto por aproximadamente 900 artefatos produzidos através da trança com fibras rígidas. Embora não seja uma técnica específica dos povos indígenas, a trança de fibra está presente na produção de materiais de quase todos os grupos brasileiros, sendo utilizada desde a criação de uma base de máscara para a confecção de casas, incluindo ornamentos e instrumentos musicais, com objetivos que variam do uso ritual à comercialização. A coleção inclui exemplos de cestas, cestas, cestas, sacolas, enfeites, estojos, ventiladores, peneiras, armas, redes e tapetes, representando mais de 70 grupos indígenas, principalmente das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, como Tenetearas, Tapirapés, Macus , Timbiras, Tarianas, Mamaindês e Tembés, entre outros. Entre as raras peças, destaca-se o escudo trançado dos Tucanos, do vale do rio Uaupés (um dos itens destacados por Gonçalves Dias durante a exposição do Amazonas, em 1861); a cesta de Baquité dos Nambiquaras, de Mato Grosso, coletada pela Comissão Rondon em 1921; o kit de miudezas Uarabarru dos Carajás, coletado por Lincolm de Souza, editor de A Noite, e doado ao museu em 1948 pelo coronel Leony de Oliveira Machado, etc.

A coleção de cerâmica indígena caracteriza-se pela diversidade de origens, formas, estilos, ornamentos e funções, possibilitando acompanhar a trajetória da indústria cerâmica tradicional até a produção atual e exemplificando temas como o cotidiano de diferentes grupos e a influência dos temas da cultura de massa na produção indígena contemporânea, entre outros. A coleção abrange um grande número de recipientes domésticos, como panelas, suportes, panelas, tigelas, pratos, vasos, tigelas, jarros de água e torrefadores biju, com tipos específicos para fins cerimoniais, além de instrumentos musicais, tubos, antropomórficos e zoomórficos estatuetas e brinquedos. Representam na coleção, entre outros, artefatos de cerâmica de grupos como Asparaí, Uaurás, Assurini, Bororós, Iaualapitis e o povo de Aldeia Uapuí e o vale do rio Uaupés. No contexto da produção figurativa de cerâmica, as chamadas figuras de Litxokô, produzidas pelos índios Carajás, destacam-se em estilo moderno e decoração refinada; os vasos e vasos antropomórficos decorados com figuras estilizadas e padrões geométricos do Cadiueus; os recipientes decorados com figuras de animais em alto relevo dos Ticunas, etc.

A coleção de instrumentos musicais indígenas do Museu Nacional abrange objetos usados ​​principalmente em práticas religiosas, embora a produção musical “profana” (relacionada ao mero entretenimento) também esteja documentada. Os instrumentos de sopro (flautas, buzinas, trompetes e assobios) e os instrumentos de percussão (bateria, guizos e baquetas) predominam, sendo raros os instrumentos de corda (arco musical). São feitos de diferentes materiais, como cabaças, cuités, argila, madeira, couro, ossos e cascos de animais, sementes, elites e taquaras. Destacam-se os instrumentos musicais e as gravações dos índios Parecis e Nambiquaras, colecionados e produzidos por Edgar Roquette-Pinto na Serra do Norte, em 1912. Roquette-Pinto utilizou um fonógrafo portátil movido a cordas que permitia gravar em cilindros de cera. Mais tarde, esse material influenciou composições de músicos brasileiros como Heitor Villa-Lobos e Oscar Lorenzo Fernández.

O conjunto referente à arte indígena de penas abriga um grande número de peças e se caracteriza pela multiplicidade de origens – refletindo o próprio alcance dessa expressão artística no território brasileiro, comum a quase todos os grupos conhecidos. Os objetos (feitos com penas de pássaros, conchas, fibras e outros materiais) têm finalidades variadas, desde simples ornamentos corporais a elementos de distinção de status social, além de peças específicas para uso em rituais, celebrações e festas. A coleção inclui cocares, diademas, coroas, aros, capuzes, capacetes, mantos, testas, brincos, pingentes, cintos, cetros e máscaras. Entre os grupos mais representados em termos de produção de penas, os Carajás, Tucanos, Mundurucus, Parintintins e Ricbactas.

A coleção de armas e armadilhas de guerra e caça compreende os objetos usados ​​pelos grupos indígenas na caça e as disputas por terras e recursos (com outros grupos indígenas ou ao longo da resistência aos colonizadores) e exemplos feitos para uso cerimonial, como símbolos culturais e elementos de reafirmação da identidade. . Lanças, arcos e flechas são os espécimes mais populares entre os grupos indígenas brasileiros, sendo abundantemente representados na coleção, ao lado de paus, espadas de madeira, zarabatanas, atiradores de flechas e dardos, etc. A coleção é caracterizada pela diversidade de estilos e padrões decorativos, refletindo a amplitude dos contextos culturais dos povos produtores. Entre os grupos representados, destacam-se os Uapixanas, Iaualapitis e Carajás, entre outros.

O museu também possui núcleos menores, mas altamente representativos de outros aspectos da cultura material dos povos indígenas, incluindo a coleção têxtil (equipamento usado para fiação e tecelagem e exemplos têxteis, como bolsas, bolsas, redes, camisas, mantos e roupões rituais) , máscaras diversas, geralmente associadas ao uso religioso (destacando a grande coleção de máscaras dos índios Ticuna e outros grupos como os Javaés, Auetis, Meinacos e Uaurás), exemplos de artigos de decoração (como bancos de monóxido esculpidos em madeira), canoas , ornamentos de efeitos corporais feitos com o uso de diferentes materiais, entre outros.

Por fim, o museu abriga uma coleção de línguas indígenas brasileiras, composta por um núcleo documental (abrangendo um amplo grupo de línguas pertencentes a diferentes famílias e troncos linguísticos) e um núcleo sonoro (com registros de discursos narrativos, mitos, músicas, sonorização de vocabulário). etc.), em constante análise e expansão, servindo de base para pesquisas e estudos sobre sociedades, línguas e culturas indígenas.

luzes

Cetro
Legado testamentário de Cerqueira Lima, Barão de Melgaço, ao Museu Nacional, provavelmente parte do conjunto de cetros de Parintintim que faziam parte do conjunto de 77 da Sala Gabriel Soares, na Exposição Antropológica de 1882.

Colar em madrepérola
Adorno pertencente à coleção Guido Boggiani. A adoção de Guido – um jovem Bororo adotado por uma família branca no século 19 – ocorreu após o contato da família Mello Rego com um grupo de Bororo indígenas “pacificados” pelo capitão Antonio José Duarte. Sua mãe adotiva, Maria do Carmo Mello Rego, criou uma coleção etnográfica dos povos indígenas do Mato Grosso, doada ao Museu Nacional por legado testamentário em 1895.

Máscaras antropomórficas de madeira
Grupos Aweti, Waurá e Mehináku.
Na década de 1940, um trabalho de investigação antropológica sobre a riqueza da fauna, flora e cultura das altas xinguanas foi iniciado e liderado pelos pesquisadores do Museu Nacional sob a direção de Heloisa Alberto Torres.

Como parte desta pesquisa, no campo da Etnologia, foram Eduardo Galvão e Pedro Lima, colecionadores de máscaras catalogados sob os números 35.226 e 35.330, nos anos de 1947 e 1948. Uma máscara número 39.400 pertence à coleção Thomas Gregor, de 1974 .
Máscara Tikuna
Essa foi uma das máscaras Tikuna observadas e desenhadas por Debret durante a Missão Artística Francesa (1816-1831) e publicada em sua obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (“Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”) (1834-39). Um dos destaques das coleções do século XVIII no Museu Nacional.

Rímel
Peça adquirida por Sir Haeckel Tavares, que a comprou de Frei Fidelis, missionário no Alto Solimões, em março de 1945.

Vaso pintado Kadiwéu
Provavelmente parte da coleção Guido Boggiani, no final do século XIX.

Escudo de Uaupés
Escudo trançado de Tukano
“Objetos raros, tanto que existem muitos na província que ignoram sua utilidade. Bem tecido, resiste à ponta de uma taquara ou Curabi; leve, não cansa o transportador e pode ser gerenciado como uma boa arma de defesa; facilmente portátil, não perturba o caminho. ” Exposição de Gonçalves Dias, Amazonas, 1861.

Bororo Pot
Pote com saliência esferoidal, coletado por Cristofer Croker durante uma pesquisa de campo do projeto Harvard – Central Brazil Research na década de 1960.

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Bonecas
Artesão: Xuréia.
Peça colecionada por Maria Heloisa Fenélon Costa, em 1959, como parte de seus estudos sobre os estilos artísticos da cerâmica Karajá. A peça tem um estilo moderno, com membros soltos e móveis, forte visibilidade para a pintura corporal e o penteado tradicional dos índios Karajá.

Faixa de penas frontal
O adorno masculino, feito pelo grupo Tukano, era usado na testa e amarrado à nuca como parte de um conjunto de adornos para a cabeça.

Cesta de Karajá para estranhos
Caixa de palha trançada.
Peça colecionada pelo escritor A Noite, Lincolm de Souza, e presente à coronel Leony de Oliveira Machado, que a doou ao Museu em junho de 1948.

Bocodori-inog
Colar de unhas de tatu gigante.
Esta peça faz parte de uma coleção da Comissão Rondon entre os Bororo, realizada em 1923. Entrou no museu em 1924.

Panela de tikuna
Pote de água Tikuna com ornamentos em relevo: onça e jacaré.
Colecionado por Curt Nimuendajú em 1941. A maior coleção do Setor de Etnologia é a de Curt Nimuendajú, com mais de três mil itens. A coleção Tikuna, de 1942, possui 205 itens. Nimuendajú coletou artefatos e peças etnológicas entre vários grupos indígenas, mantendo contato constante com o Museu Nacional por meio de sua diretora, Heloisa Alberto Torres, que adquiriu as coleções.

Placas occipitais com plumas
Adornos do grupo Tukano, usados ​​na parte de trás da cabeça, amarrados à banda frontal, acompanhados de outros adornos.
O uso dessa combinação é restrito aos homens. Peças doadas ao Museu Nacional por Visconde de Paranaguá. Eles fizeram parte da Exposição Antropológica de 1882 e estão na lista de doações da nobreza publicada em artigos do Jornal do Comércio sobre os preparativos para a exposição.

Boneca Karajá
Cerâmica e Cera.
Escultura feita segundo os padrões tradicionais de confecção de bonecas infantis. Colecionado por William Lipkind em 1939. Durante a gestão de Heloisa Alberto Torres, foi feito um acordo entre a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e o Museu Nacional, para co-patrocinar estudos etnológicos no Brasil.

No âmbito deste acordo, vários etnologistas chegaram aqui, sendo Lipkind entre eles. Nenhum desses profissionais ficou muito tempo no Museu, mas Heloisa tentou tirar o máximo proveito de sua curta estadia para treinar jovens pesquisadores a adquirir coleções para o Museu.

Pulseira
Conjunto de artefatos de penas, parte da coleção Mundurukú, enviado em 1830 ao Museu em caixas sem uma lista de conteúdo. Provavelmente provém de uma coleção da Expedição Langsdorff, pois várias caixas com peças coletadas para esta exposição ficaram no estado do Pará para serem enviadas em oportunidades futuras.

Através da comparação dos hábitos descritos no diário de viagem do polígrafo e gaveta francês Hercule Florence, pode-se conectar essa coleção ao Mundurukú de Santarém em 1829. Ainda existe, em um documento do Arquivo Geral do Museu Nacional, uma as informações que as caixas enviadas sem lista foram classificadas por Antonio Correia de Lacerda.

Basket (Baquité) Nambikwára
Uma das maiores coleções do Setor de Etnologia do Museu Nacional é a coleção da Comissão Rondon, com cerca de 1.500 itens. Quando Rondon avançava sobre o território indígena, sua equipe coletava e enviava ao Museu Nacional peças e artefatos de vários grupos. Esta peça fazia parte de uma coleção entre os Nambikwára em junho de 1929.

O contato da Comissão Rondon com os Nambikwára foi descrito por Roquette Pinto (ex-diretora do Museu Nacional que na época ocupava a posição naturalista na Seção de Antropologia), em seu livro Rondônia, em 1912.

Museu Nacional no Rio de Janeiro
O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a instituição científica mais antiga do Brasil que, até setembro de 2018, figurava como um dos maiores museus de história natural e antropologia das Américas. Está localizado dentro do parque Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, sendo instalado no Palácio São Cristóvão.

O Museu Nacional / UFRJ faz parte do Ministério da Educação. É a instituição científica mais antiga do Brasil e o maior museu de história natural e antropologia da América Latina. Fundada por D. João VI em 6 de junho de 1818, e inicialmente sediada em Campo de Sant’Anna, serviu ao país para promover o desenvolvimento cultural e econômico do país.

Originalmente chamado Museu Real, foi incorporado à Universidade do Brasil em 1946. Atualmente, o Museu faz parte da estrutura acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Museu localizado no Paço de São Cristóvão, de 1892 – residência da Família Imperial Brasileira até 1889 – conferiu-lhe um caráter diferenciado se comparado a outras instituições da região. É o mesmo lugar em que a família real viveu há tantos anos (onde D. Pedro II nasceu e a Primeira Assembléia Constituinte Republicana), e hoje é a interface entre memória e produção científica.

O Museu Nacional abrigava uma vasta coleção com mais de 20 milhões de itens, abrangendo alguns dos registros mais relevantes da memória brasileira no campo das ciências naturais e antropológicas, bem como conjuntos de itens amplos e diversos de diferentes regiões do planeta, ou produzido por povos e civilizações antigas. Formada ao longo de mais de dois séculos através de coleções, escavações, trocas, aquisições e doações, a coleção foi subdividida em coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e antropologia biológica (incluindo os remanescentes do esqueleto de Luzia nesse núcleo). fósseis nas Américas), arqueologia e etnologia. Foi a base principal da pesquisa realizada pelos departamentos acadêmicos do museu – que desenvolve atividades em todas as regiões do país e em outras partes do mundo, incluindo o continente antártico. Possui uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras.

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