Etnologia africana e afro-brasileira, Museu Nacional do Brasil (Restauração Digital)

A coleção de etnologia africana e afro-brasileira do Museu Nacional era composta por aproximadamente 700 objetos. Abrangeu os espécimes produzidos por pessoas de diferentes regiões do continente africano e testemunhos das manifestações culturais dos descendentes de povos africanos no Brasil. O núcleo de objetos africanos foi constituído principalmente entre 1810 e 1940, referindo-se em sua origem às coleções das famílias reais portuguesas e brasileiras, posteriormente enriquecidas por outros legados, compras e transferências. A coleção afro-brasileira, por sua vez, foi formada entre 1880 e 1950, a partir de um núcleo de objetos transferidos dos depósitos das forças policiais locais (responsáveis ​​por confiscar eles, quando era proibida a prática de candomblé no Rio de Janeiro), para a qual foi adicionada a importante coleção de Heloísa Alberto Torres, composta por itens comprados dos mais importantes terreiros de candomblé do Recôncavo Baiano ao longo da década de 1940.

O núcleo da etnologia africana abrange, em sua maioria, peças produzidas no século XIX por povos africanos na costa oeste, abrangendo ambos os grupos étnicos que não tiveram contato com o Brasil e outros historicamente relacionados à diáspora africana naquele país. Inclui artefatos para o uso diário (adereços e tranças), objetos rituais (máscaras e estatuetas), instrumentos musicais (flautas, chocalhos, bateria, lamellophones), armas de caça e guerra, etc., além de peças que se destacam por seu histórico valor ou pelo contexto em que foram adquiridos – como o conjunto de presentes oferecidos ao príncipe regente Dom João VI pelo rei Adandozan, do antigo reino de Daomé (atual Benim), entre 1810 e 1811, que fazia parte do coleção inaugural do Museu Nacional. A peça central do conjunto é o trono de Daomé, provavelmente datado do século 18 ao 19, uma réplica da sede real de Kpengla, avô de Adandozan. Completando o conjunto de presentes, há uma bandeira de guerra de Dahomey (mostrando as vitórias do rei Adandozan nas guerras contra seus inimigos), o par de sandálias reais, bolsas de coro, uma bengala, sacudidelas reais e um prato de tabaco.

Também no contexto de artefatos de origem africana, o museu preserva máscaras rituais de sociedades secretas dos iorubás e écoles, exemplos de cestaria de Angola e Madagascar, gravetos cerimoniais do Côkwe, objetos musicais adquiridos do rei de Uganda, objetos antropomórficos e zoomórficos estatuetas religiosas, espécimes de alaka (tecidos africanos feitos em tear e importados da costa oeste para o Brasil). Por fim, destaca-se o acervo doado ao Museu Nacional por Celenia Pires Ferreira, missionária da Igreja Congregacional da cidade de Campina Grande, em 1936. A coleção é composta por objetos de uso doméstico e ritual, coletados pelo missionário durante sua permanência no Platô Central de Angola entre 1929 e 1935.

O grupo de etnologia afro-brasileira documenta hábitos, crenças e técnicas de produção dos descendentes de povos africanos no Brasil, bem como o histórico de violência na escravidão, repressão religiosa e as formas de organização social das comunidades negras no período pós-abolição. A religiosidade afro-brasileira é o aspecto mais amplamente ilustrado na coleção. A maioria dos objetos religiosos foi originalmente encontrada em espaços conhecidos como Zungus ou Candomblé terreiros, locais de culto para os inquéritos (Bantus), orixás (Yoruba) e voduns (Jeje Mahi). Tais templos eram constantemente invadidos e seus objetos confiscados e levados para depósitos policiais, como evidência material da prática de rituais então proibidos. Por iniciativa do ex-diretor do museu, Ladislau Neto, esses objetos passaram a ser transferidos para a instituição, depois de reconhecer a importância histórica, sociológica e etnológica dessa coleção.

Um segundo conjunto importante de objetos da coleção de etnologia afro-brasileira vem da doação feita por Heloísa Alberto Torres, antropóloga e ex-diretora do Museu Nacional. Durante suas viagens à Bahia na década de 1940, Heloísa adquiriu uma série de objetos nas principais casas de candomblé da região do Recôncavo, além de exemplos de artesanato, produção têxtil e cultura popular, como os orixás esculpidos em madeira por Afonso de Santa Isabel e cedro esculturas com pinturas a óleo adquiridas no Ateliê da Rua Taboão. A coleção também inclui peças feitas sob encomenda pelo próprio Museu Nacional, para aparecer na Sala de Etnografia Regional Brasileira, parte da Exposição Permanente do Museu Nacional em 1949 (primeira exposição permanente de objetos e cultos afro-brasileiros, com o objetivo de apresentando diferenças regionais na cultura nacional), como bonecas de pano vestidas com trajes de orixás.

Kumbukumbu: África, memória e patrimônio

A África é um continente que abrange mais de 30 milhões de quilômetros quadrados, distribuídos em 54 países e nove territórios, com mais de um bilhão de pessoas falando em mil idiomas diferentes. O continente possui riqueza incalculável em diamantes, petróleo e vários minerais, cuja exploração contribui para os maiores contrastes econômicos e sociais do mundo. Desde a antiguidade, a África fazia parte das rotas comerciais mais longas e mais importantes e, através delas, entrou em contato com povos e culturas distantes. No século 7, as caravanas árabes levaram o Islã ao norte da África; no século XV, os cristãos chegaram à costa atlântica e, a partir do final do século XVII, o crescimento do comércio atlântico de escravos levou à maior migração forçada da história moderna. A expansão da Europa colonial sobre a África nos séculos 19 e 20 rompeu a dinâmica história africana e estabeleceu novos padrões políticos e econômicos que foram sustentados pela força militar, alianças com as elites africanas e a implementação dos padrões europeus da vida moderna. Em meados do século XX, os movimentos de independência vitoriosos começaram a mudar esse panorama.

As coleções que compõem a Exposição Kumbukumbu do Museu Nacional apresentam diversos objetos adquiridos por meio de doações, compras e trocas. Muitos foram obtidos durante períodos dramáticos da história africana e evidenciam o protagonismo de africanos, brasileiros e europeus nos séculos XIX e XX, em relações diplomáticas, escravidão, conflitos coloniais, projetos de civilização e estudos científicos. São objetos que foram trazidos de diferentes partes do continente entre 1810 e 1940, com a adição de outros objetos que pertenceram ou foram produzidos por africanos ou seus descendentes no Brasil, entre 1880 e 1950. Além da beleza e das peças de importância antropológica, a exposição é de importância histórica, por possuir uma das mais antigas coleções africanas do Brasil. Apresentamos aqui algumas dessas peças.

Seção I: África, Passado e Presente

Os africanos estão integrados no mundo moderno, mas preservam hábitos, crenças, técnicas de produção e rituais muito antigos. Entre muitos povos e línguas, eles combinam suas diferenças com práticas e hábitos que hoje são generalizados em todo o continente. O sofisticado trabalho com metalurgia, a arte da madeira, a música e seus instrumentos, a tecelagem manual e vários tipos de arte, são marcas das culturas africanas que hoje são admiradas em todo o mundo e apropriadas pela cultura ocidental contemporânea. Os tecidos são valiosos e fáceis de transportar e, por isso, já foram usados ​​como moeda de troca entre comerciantes, que os usariam para comprar e vender outros produtos em todo o continente. Entre os tecidos mais valiosos da África subsaariana estão os feitos de tear e tingidos em várias cores nos poços tradicionais das unidades de tingimento africanas. Instrumentos musicais são, talvez, os exemplos mais fortes da circulação dos bens culturais dos povos africanos. Entre os instrumentos mais difundidos, há uma grande variedade de tambores. O lamelofone, ou a marimba (também conhecida como sanza, kisanji, mbira ou kalimba), por outro lado, são pouco conhecidos hoje, mas foram muito apreciados no passado, inclusive por africanos escravizados que foram trazidos para o Brasil.

Alaka
Tecido africano.
Também conhecido como “panos da costa”. São feitos tear, na costa ocidental da África. Comprado por Heloísa Alberto Torres em Salvador, Bahia, em 1953.

Uganda Drum
Feito de pele de zebra.
Comprado ao rei de Uganda pela vila de Jorge Dumont e doado ao Museu Nacional em 1926.

Máscara Gélédé
Gélédéé – sociedade feminina secreta dos povos de língua iorubá.
As máscaras foram e ainda são usadas pelos homens durante os rituais de dança para abordar os temas da vida cotidiana. Muitos são cobertos com adornos.

Encosto de cabeça
Acreditava-se que, apoiando a cabeça nesse suporte, era possível se comunicar com seus ancestrais.

mascarar
Os dentes se destacam, com uma ponta deformada que é comumente usada pela população local.

Arma
“Arma retirada de africanos rebeldes em conflito colonial no Senegal. As marcas no cabo indicam as mortes cometidas por seu proprietário”, de acordo com o registro de entrada da peça no Museu Nacional.

Tigela para cachimbo
Cerâmica.

Dente de elefante esculpido
Intercâmbio com o museu de Berlim em 1928.

Pente
Provavelmente feita de ébano, um tipo de madeira escura que hoje é muito rara. Usado entre os povos da língua suaíli na costa oriental da África.

Seção II: Diplomacia Da Amizade, Brasil-Daomé (Benin)

Esta é uma das coleções mais antigas do Museu Nacional. Chegou ao Brasil em 1810, mesmo antes da criação do Museu, que foi em 1818. É o resultado de relações diplomáticas entre o Reino de Daomé, que atualmente é Benin, e o Brasil. No ano de 1810, o rei Adandozan de Daomé enviou muitos presentes a D. João, príncipe regente de Portugal, que, na ocasião, vivia com a família real no Brasil. Esses eram objetos de seu uso pessoal, alguns deles destinados ao uso restrito do rei e dos dignitários do reino. Conhecendo o Tratado de Amizade e Aliança entre Brasil e Inglaterra, que em 1810 estabeleceu o fim gradual do comércio de escravos, a embaixada de Dahomey tentou negociar com D. João privilégios para o comércio de escravos no Brasil. Na época, o Reino de Daomé estava em guerra com os povos vizinhos e, portanto, tinha muitos prisioneiros, tornando-se um dos maiores exportadores de escravos das Américas.

Ao chegar ao Brasil, os embaixadores trouxeram presentes e uma carta do rei Adandozan, hoje mantida no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Alguns desses presentes estão em exibição. Destaque é o trono, que sempre foi exposto no Museu Nacional, e a bandeira, que mostra imagens de prisioneiros e pessoas decapitadas. Enviar mensagens através de desenhos em tecidos era uma prática antiga no reinado de Daomé. A bandeira registra as vitórias de Andandozan em guerras contra seus inimigos.

Zinkpo
Trono.
Foi chamado de zingpogandeme (assento do rei) ou zinkpojandeme (assento com decoração trançada). Cópia rara do trono do rei Kpengla (1774-1789), avô de Adandozan. Presente de Adandozan, rei de Daomé, ao príncipe regente D. João em 1810.

Sandália Real

Saco de tabaco e bolsa de couro
Feito de couro para transportar placas de tabaco.

Bandeira de guerra
Feito de linho cru, com aplicações de pano preto e vermelho.

Caixa de tubulação
Feito de madeira.
Presente de Adandozan, rei de Daomé, ao príncipe regente D. João em 1810.

Seção III: Os Povos da Floresta Equatorial

Por mais de mil anos, a floresta equatorial – cortada pelos rios Congo e Lualaba – foi ocupada por povos nômades e coletores, ancestrais dos atuais povos bantus. Eles começaram a migrar do centro do continente para o oeste, até chegar à costa atlântica. No caminho, começaram a se misturar com os povos locais, ensinando agricultura e metalurgia e estabelecendo novos assentamentos. Aqueles que permaneceram nômades na floresta tornaram-se pejorativamente conhecidos como pigmeus. Hoje, esse conjunto de povos ocupa toda a floresta e seus arredores (Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, República do Congo, República Democrática do Congo e Angola). Apesar da proximidade linguística, eles têm culturas e organização social muito distintas. Dessa região vieram os escravos que são conhecidos no Brasil como congos, loangos e angicos.

Durante a ocupação colonial, exploradores europeus, especialmente estudiosos e comerciantes de arte, pegaram objetos da cultura material desses povos, os recolheram e os disseminaram por todo o mundo. As primeiras coleções etnográficas e artísticas africanas que conhecemos hoje foram criadas dessa maneira. Os objetos aqui apresentados pertenciam aos povos que habitavam os territórios ocupados pelos alemães (atual Camarões), belgas (atual República Democrática do Congo) e francês (República do Congo). Quase todos chegaram ao Museu Nacional por meio de trocas, nas quais objetos indígenas do Brasil e africanos eram comercializados por instituições museológicas.

Ngumba
Figura do antepassado masculino. Guardião dos túmulos dos antepassados.
Geralmente carrega um chifre entre as mãos, onde substâncias mágicas foram mantidas. Intercâmbio com o Museu de Berlim em 1928.

Punhal
Representação de status e poder. Cabo decorado com tachas de latão.
Usado nas execuções dos prisioneiros. No século 20, essa prática tornou-se ilegal no Congo Belga, e a faca começou a ser utilizada apenas como um objeto de dança cerimonial.

Nkisi
Representação da figura humana associada a práticas mágicas.

mascarar
Geralmente coberto com pele de antílope.
Utilizado em funerais e rituais de iniciação da extinta sociedade masculina secreta, Ngbe. Alguns têm chifres na cabeça. A marca arredondada no lado da face é um desenho do antigo sistema de sinais gráficos chamado nsibidi.

Nkondi
Representação da figura humana associada a práticas mágicas.

Seção IV: Guerra Colonial

A coleção de armas africanas do Museu Nacional nos oferece possibilidades de estudo que vão além da ideia funcional de “ataque e defesa”. Eles nos convidam a pensar neles como portadores de poder e histórias. Não podemos concebê-los apenas como instrumentos de guerra, caça ou outras atividades relacionadas à sobrevivência cotidiana. Alguns deles são objetos rituais e denotam o status social do indivíduo que o detém. Todos eles possuem uma peça de metal cortante ou perfurante. A metalurgia foi uma tecnologia criada pelos povos da raiz lingüística bantu, hoje representada por mais de 500 grupos étnicos distribuídos por toda a África subsaariana. O conjunto de armas expostas foi recolhido no século XIX e quase todas vêm do vale do rio Zambeze. A região, rica em minerais, permitiu o uso abundante de alguns metais, como zinco e cobre – e a ligação formada pelos dois, que dá origem ao latão. O trabalho com arame de latão está presente na maioria das armas expostas na sala de Kumbukumbu. Há referências de que essa técnica foi desenvolvida pelo Shona, um macrogrupo etnolinguístico de raiz de Bantu. Os Shona foram o maior grupo a se estabelecer no Vale do Zambeze. Hoje, essas armas, adornadas com arame de latão, são muito apreciadas pelo mercado ocidental da arte africana.

Martelos com uma lâmina semelhante a um “bico de pato” eram de origem Nama (ou Namaqua), um povo que habita os territórios da Namíbia, África do Sul e Botsuana. Nos primeiros anos do século XX, os alemães, então colonizadores da Namíbia, expulsaram os Nama e os Herero de suas terras. Em 1904, após uma série de conflitos, o exército alemão avançou sobre o território dessas populações, que foram praticamente dizimadas (muitas foram feitas prisioneiras ou escravas). Mais de 70% das pessoas expulsas da Namíbia morreram de fome e sede no deserto, desencadeando o primeiro genocídio do século XX. Como tal, o conjunto dessas armas evidencia outro tipo de poder: o poder afirmado pelo domínio colonial. As “armas” foram retiradas de seus povos originais durante a exploração européia do continente africano e sofreram um processo de ressignificação. Deixaram de ser um símbolo de bravura, coragem e resistência, para se tornar uma representação da inferioridade dos conquistados. Tornou-se uma peça “primitiva” de contemplação. Hoje, é fundamental que os museus descolonizem suas coleções para “libertar” os objetos e suas histórias, abrindo espaço para a ocupação de outras narrativas.

Machado
Usado pelos Namaquá.
Existem pequenos círculos esculpidos no cabo de madeira e detalhes decorativos na lâmina.

Machado
Usado em guerras ou por pessoas em posições de autoridade.
Possui uma lâmina triangular e um cabo de madeira, adornado com fios de latão trançado.

Arma
Arma de prestígio.
Lâmina montada no cabo de madeira coberto por uma trama de arame de latão.

Seção V: Angola Após a Escravidão Atlântica

O território que hoje corresponde a Angola exportou mais de três milhões de pessoas escravizadas para o Brasil entre 1530 e 1850, quando o comércio atlântico foi oficialmente abolido. Em Angola, a escravidão durou até 1878, ano em que foi proibida pela legislação colonial portuguesa. No entanto, na prática, a escravidão se estendeu até 1910. Angola permaneceu uma colônia de Portugal até 1975. Durante o período colonial, a população local foi submetida a trabalho forçado, muito semelhante aos tempos da escravidão, e também a um processo obrigatório de “ assimilação ”, que pretendia incutir nos padrões culturais europeus africanos. Além de funcionários coloniais, missionários católicos e protestantes de várias nacionalidades se estabeleceram em várias partes do país para converter os povos de Angola à fé cristã, em colaboração com o processo de assimilação.

Os objetos aqui apresentados representam povos distintos de Angola: o Tchokwe (ou Quiôco) e o Ovimbundu. Os Tchokwe (situados ao norte e leste do país) são reconhecidos por seu trabalho requintado em madeira e são mundialmente famosos no mundo da arte. Aqui temos exemplos de bastões. Embora pareçam semelhantes, os cassetetes têm várias funções. Os mais simples são os tacos, usados ​​na caça como arma de mão ou de propulsão. Os bastões adornados são usados ​​como objetos cerimoniais. Os objetos Ovimbundu representavam a vida cotidiana dos povos do platô central de Angola e foram doados ao Museu Nacional em 1936 pela professora de Pernambuco e missionária protestante em Angola, Celenia Pires Ferreira. A coleção inclui, em sua maioria, objetos de uso doméstico e adorno.

Boneca de madeira

Bastão
Coberto por pássaro. Uso cerimonial.

Bengala

Seção VI: Africanos no Brasil

A presença de africanos e seus descendentes no Brasil é marcada pela violência da escravidão e pós-abolição. Apresentamos aqui objetos que mostram como os africanos se estabeleceram e recriaram seu mundo a partir do final do século XIX, em particular na Bahia e no Rio de Janeiro. Temos objetos dos antigos candomblés do Rio de Janeiro, conhecidos como zungus ou “casas da sorte”. Lá eles adoravam Inkices (bantu), orixás (yorubá) e yodels (jêje-mahi). Perseguidas, essas casas foram invadidas e tiveram seus objetos confiscados pela polícia e utilizados como prova material da prática de rituais proibidos na época. Os frequentadores dessas casas foram perseguidos e presos. Sabendo da existência desses objetos na Polícia Judiciária, o diretor do Museu Nacional, então, Ladislau Netto, ao longo da década de 1880, começou a pedir que eles fossem enviados a ele para seus estudos. O Museu Nacional, então, formou uma coleção que contém técnicas antigas de metalurgia e arte em madeira, exemplos materiais de práticas religiosas dessa última geração de africanos e seus descendentes diretos.

Temos também uma coleção de objetos do candomblé Nagô da Bahia, formada em 1940 e complementada em 1953 pela antropóloga Heloísa Alberto Torres, que na época era diretora do Museu Nacional. O Nagom do Candomblé foi elaborado por africanos escravizados de língua iorubá, trazidos para a Bahia. As esculturas de madeira, representando os orixás, foram esculpidas pelo artesão José Afonso de Santa Isabel.

Abebé
Objeto ritual de Oxum.

Representação Xangô
Uso religioso.

Pulseiras de argola
Na África, eles eram valiosos por seu peso em metais e usados ​​como moeda para o comércio.

Seta
Objeto ritual de Oxossi.

Fio de miçangas
Museu Nacional

Linha do grânulo
Uso religioso.

Edans
Símbolo usado no pescoço por membros da sociedade Ogboni.

Banqueta
No Nagô Candomblé, era usado por pessoas de hierarquia inferior.

Baiana
Boneca de pano vestida com roupas de mulheres do candomblé nos anos de 1920.
Capturado na Feira de Santana, Bahia.

Museu Nacional no Rio de Janeiro
O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a instituição científica mais antiga do Brasil que, até setembro de 2018, figurava como um dos maiores museus de história natural e antropologia das Américas. Está localizado dentro do parque Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, sendo instalado no Palácio São Cristóvão.

O Museu Nacional / UFRJ faz parte do Ministério da Educação. É a instituição científica mais antiga do Brasil e o maior museu de história natural e antropologia da América Latina. Fundada por D. João VI em 6 de junho de 1818, e inicialmente sediada em Campo de Sant’Anna, serviu ao país para promover o desenvolvimento cultural e econômico do país.

Originalmente chamado Museu Real, foi incorporado à Universidade do Brasil em 1946. Atualmente, o Museu faz parte da estrutura acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Museu localizado no Paço de São Cristóvão, de 1892 – residência da Família Imperial Brasileira até 1889 – conferiu-lhe um caráter diferenciado se comparado a outras instituições da região. É o mesmo lugar em que a família real viveu há tantos anos (onde D. Pedro II nasceu e a Primeira Assembléia Constituinte Republicana), e hoje é a interface entre memória e produção científica.

O Museu Nacional abrigava uma vasta coleção com mais de 20 milhões de itens, abrangendo alguns dos registros mais relevantes da memória brasileira no campo das ciências naturais e antropológicas, bem como conjuntos de itens amplos e diversos de diferentes regiões do planeta, ou produzido por povos e civilizações antigas. Formada ao longo de mais de dois séculos através de coleções, escavações, trocas, aquisições e doações, a coleção foi subdividida em coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e antropologia biológica (incluindo os remanescentes do esqueleto de Luzia nesse núcleo). fósseis nas Américas), arqueologia e etnologia. Foi a base principal da pesquisa realizada pelos departamentos acadêmicos do museu – que desenvolve atividades em todas as regiões do país e em outras partes do mundo, incluindo o continente antártico. Possui uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras.